Foi notícia nos últimos dias a listagem dos rankings das escolas em Portugal. No entanto para surpresa de muitos, os rankings são diferentes e variam consoante a entidade que analisa os dados. De referir que que os rankings são criados tendo por base os dados estatísticos fornecidos pelo Ministério da Educação.
Nos últimos vinte anos, o Ministério da Educação disponibiliza vários dados sobre os resultados dos alunos nos exames nacionais e notas internas dadas pelos estabelecimentos de ensino. No entanto as várias entidades que analisaram os dados apresentam todas resultados diferentes.
Vejamos a nível a nacional. O Público e o Expresso colocam o Colégio Nossa Senhora do Rosário em primeiro lugar, o Observador, o Jornal de Notícias e a Sábado a Academia de Música de Santa Cecília.
Em Santo Tirso, o Público atribui o primeiro lugar ao Instituto Nun’Alvres, o Expresso à Escola Secundária Tomaz Pelayo, o Observador, a Sábado e o Jornal de Notícias ao Colégio de Lourdes.
Nos vários canais de televisão, nos espaços informativos, a confusão também foi geral. Uns têm um top-10, outros têm outro top-10 completamente diferente.
Os critérios são diferentes, há entidades que consideram ser necessário haver um número mínimo de provas para constarem no rankings e nem sempre essas entidades consideram o número total de alunos inscritos para elaborar o ranking.
O presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) em declarações à Lusa disse que as listagens feitas com base nessas informações “revelam apenas uma ínfima parte do trabalho diário das escolas e alunos”. Filinto Lima referiu também que “há escolas que fazem um trabalho de excelência e ficam mais para baixo nestas tabelas. É muito injusto”.
Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Diretores Escolares (ANDE) partilha da mesma opinião e lamenta a comparação de realidades escolares muito distintas. O presidente da ANDE sublinhou que os estabelecimentos de ensino refletem a comunidade local onde estão inseridas: “As escolas situadas em zonas onde existem taxas de desemprego muito elevado e onde há muitos casos de famílias desestruturadas nunca estão nos primeiros lugares. Mesmo que haja muito esforço, dedicação e empenho de todos”. Para Manuel Pereira, um estudante que num exame consegue ter um três “pode ter muito mais valor do que um outro que tem cinco. Mas isso não se percebe nos ‘rankings'”. “Um aluno de uma família desestruturada até poderá ter bons resultados académicos. Mas será sempre uma exceção, não a regra”, disse. Por isso, os representantes dos diretores alertaram que a divulgação dos resultados pode desmotivar o corpo docente assim como toda a comunidade escolar: “Tem um impacto negativo, porque não sentem orgulho com o lugar que a escola ocupa”, disse Manuel Pereira. Para Filinto Lima, as tabelas acabam mesmo por ser “falaciosas”.
Ricardo Paes Mamede, economista e professor universitário português, vai mais longe e diz que “do ponto de vista técnico, estes rankings são uma fraude, em termos práticos, produzem efeitos contraproducentes, não é o seu rigor nem as suas implicações que explicam o destaque que os media lhes dão”.
Apesar de ser possível termos uma ideia sobre os resultados das escolas, os rankings não avaliam os resultados sociais, nem as avaliações internas dos alunos, que têm um peso maior que as avaliações dos Exames Nacionais e que servem de base para a construção dos rankings. Quando a informação varia consoante a fonte, esta não é certamente uma informação fidedigna.
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