Portugal vive uma grave crise económica resultante das medidas de controlo da pandemia de covid-19. Após um primeiro período de confinamento que arrasou com o pequeno comércio, neste momento a população depara-se com novas medidas que podem pôr em causa a sobrevivência dos seus negócios. O governo liderado por António Costa decretou medidas de restrição muito apertadas para Santo Tirso, um dos concelhos considerados como sendo de risco devido à pandemia de covid-19. No entanto, apesar de todos concordarem que é preciso fazer alguma coisa para controlar a pandemia, a insatisfação relativamente às consequências económicas é muita.
O Diário de Santo Tirso visitou vários estabelecimentos comerciais, de diversos ramos de atividade em Santo Tirso. O objetivo é dar voz às preocupações dos comerciantes nesta altura que estão a atravessar mais uma fase complicada devido ao recolher obrigatório nos próximos quinze dias, com possibilidade de renovação caso os valores da pandemia continuem a aumentar.
Carla Carvalho Mota, proprietária do Salão “Carla Mota Cabeleireiro”, a funcionar em Santo Tirso há 10 anos, está receosa com o futuro do seu negócio, diz não concordar com o encerramento das atividades económicas pois os benefícios destes encerramentos não estão comprovados que contribuam para a redução dos contágios, indicando também que até ao momento se desconhecem medidas de compensação por parte do estado.
“O recolher obrigatório a partir das 13 horas ao sábado irá sem dúvida interferir com o volume de negócios, visto que tradicionalmente tenho maior afluência de clientes nos sábados à tarde” diz a empresária.
Carla Mota considera que o recolher obrigatório às 13h00 de sábado e domingo poderão ainda ser mais prejudiciais pois como as pessoas vão circular todas da parte da manhã podem formar aglomerados que podem ser prejudiciais ao contágio.
João Silva proprietário da loja “Agulha de Prata”, negócio a funcionar em Santo Tirso há 35 anos, fundado pelo seu pai Manuel da Silva refere que estas novas medidas não interferem muito com o seu negócio porque já costumam encerrar às 13h00 aos sábados. O que realmente o preocupa é a diminuição do tráfego de clientes que vem sentido desde a entrada no segundo estado de contingência e que se vem a agravar nas últimas semanas.
Em relação às medidas que estão a ser tomadas pelo governo para contribuir para a diminuição do contágio e se as mesmas serão eficazes diz que: “Não sendo especialista em epidemias parece-me que sim, menos contactos resulta em menos transmissões. Tenho dúvidas é que essa diminuição seja suficiente numa relação custo/benefício tendo em conta as dificuldades que as populações já atravessam”, no entanto considera que as medidas de uma forma geral parecem adequadas e em sintonia com o que se está a praticar no resto da Europa, refere “muitas vezes o mau timing e a desproporcionalidade das mesmas é que gera situações de injustiça e muitas contradições”.
Miguel Teixeira proprietário do “qB Bar”, a funcionar em Santo Tirso há 11 anos sente-se indignado com todas estas medidas que prejudicam sempre os pequenos comerciantes. “Como é de conhecimento geral aproximadamente 50% da faturação na área da restauração é realizado ao fim de semana, já para não falar das quebras relativas ao impacto negativo do pânico generalizado criado, e das outras medidas restritivas. Quando se fala em quebras de 70 a 80 % não estamos a exagerar e é garantidamente insustentável…” refere o empresário preocupado com o futuro do seu negócio.
Quanto às medidas aplicadas neste novo estado de emergência considera “completamente descontextualizadas com a realidade”, refere que está comprovado que as principais origens de contágio são no meio escolar, nos transportes públicos lotados, e nos grandes eventos que foram realizados, políticos, desportivos e culturais. Na sua opinião as medidas restritivas deveriam ser aplicadas pelo poder local que melhor conhece a realidade de cada concelho, refere ainda que “a gestão dos apoios às empresas não pode voltar a ser feita pela banca (os mesmos que roubaram milhares de milhões aos portugueses…), deixar nas mãos destes vândalos os nossos apoios foi o mesmo que pôr um gato a distribuir um cabaz de sardinhas, foi um caos, milhares de pequenos empresários não conseguiram ter acesso aos apoios”.
Para finalizar sugeriu que o governo central seguisse o exemplo das medidas adotadas pelo Município do Porto que considera exemplar na luta contra a pandemia de covid-19.
Júlia Ferreira e Joaquim Silva, proprietários do restaurante “Excelência Wine House”, empresários da restauração em Santo Tirso há 7 anos, mostram-se preocupados com o que aí vem: “Estas medidas vão interferir e muito, uma vez que fica de todo impossível abrir as salas para fazer refeições, e no serviço take-away vamos tentar minimizar ao abrir as 11:15 da manhã até as treze, numa tentativa de satisfazer todos os clientes. Após as 13 e até às 14 horas iremos levar a casa dos clientes, de forma a nenhum ficar sem refeições, este tipo de serviço trás um acréscimo substancial aos encargos” refere Joaquim Silva.
Ambos consideram que todas as medidas que têm sido tomadas são muito residuais, ajudam a minimizar os contágios mas que não têm sido suficientes. A sugestão destes dois empresários é que exista uma vigilância mais ativa nos ajuntamentos de jovens que têm ocorrido na cidade, referindo eles que têm presenciado situações no parque D. Maria II, junto ao Centro Comercial dos Carvalhais e a porta da loja do cidadão.
Sónia Ribeiro proprietária de dois estabelecimentos comerciais “Look Nails” aberto há 6 anos e “Trevo Santo Tirso” aberto há 4 anos confirma que estas novas medidas certamente afetarão o seu negócio: “O sábado, é o dia em que maior parte das pessoas programa as suas tarefas e afazeres, pois já estão restringidas durante a semana com o quotidiano da vida (casa/ trabalho , trabalho / casa). E sim, para o meu negócio é certamente o dia de mais volume semanal”, desabafa a empresária.
Sónia não discorda das medidas e pensa que todos temos que fazer esforços para conter a pandemia, no entanto não deixa de referir que tem a certeza que todos os comerciantes irão sentir os efeitos destas medidas de forma negativa.
A profissional da área da beleza considera que a melhor medida de combate ao contágio é o cumprimento de todas as normas estabelecidas tanto dos comerciantes como dos clientes e que toda a gente tenha consciência da gravidade da situação, de forma ao comércio não sair prejudicado e a pandemia possa ser controlada.
Depois de visitarmos vários negócios em diferentes áreas constatamos que efetivamente a realidade é assustadora. Os espaços que visitamos estavam praticamente vazios, foi difícil conseguirmos ver clientes e o desespero dos empresários é uma realidade.
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