Jorge Gomes, 46 anos, licenciado em gestão, presidente da Junta de Freguesia de Santa Cristina do Couto de 2005 a 2013, presidente da União de Freguesias de Santo Tirso, Couto (Santa Cristina e S. Miguel) e Burgães reconquistando, pelo PS, a união de freguesias com mais população do concelho depois de 12 anos de PSD/CDS, é uma das pessoas mais afáveis de Santo Tirso com mérito e competência reconhecidas pela população, colegas, parceiros e até por adversários políticos.
É com redobrado prazer que o Diário de Santo Tirso entrevista Jorge Gomes.
Diário de Santo Tirso: Como avalia o trabalho que tem sido feito ao nível da junta de freguesia e das suas competências, primeiro em Santa Cristina e nos últimos 8 anos na união de freguesias de Santo Tirso?
Jorge Gomes: Uma avaliação a meu ver positiva, naturalmente que poderia ser feito mais, mas e dividindo um pouco nesses dois intervalos de tempo, como presidente só de Santa Cristina do Couto foi uma experiência completamente nova, penso que criámos um grupo de pessoas a trabalhar em prol da comunidade e que não assentava só nas obras de paralelo e alcatrão que sempre achei e defendo que não são propriamente da competência e da responsabilidade da Junta de Freguesia, uma vez que em termos financeiros não tenha capacidade para certas obras e muitas delas seriam da responsabilidade da Câmara Municipal ou mesmo do governo.
Contudo o nosso pilar dessa governação de 2005 a 2013 assentou na cultura, no associativismo, na ligação com as pessoas, e a melhor forma de chegar às pessoas é através das associações. Santa Cristina é uma freguesia com muito movimento associativo, tem três associações ligadas ao desporto, tem dois grupos folclóricos, tem uma associação ligada ao ambiente e à cidadania, e de facto foi um desafio muito interessante porque começámos a criar certas rotinas, certas atividades que depois se tornaram numa tradição. Essas tradições foram interrompidas pela pandemia agora em 2020 mas serão retomadas mal se possa, digo que foi muito interessante.
Depois a seguir quando surgiu a União de Freguesias o desafio tornou se ainda maior, porque é uma escala muito maior passar de uma freguesia que tem 4064 habitantes para uma que tem cerca de 22 mil. Certamente que foi um desafio enorme mas tendo em conta novamente a mesma ideia e os mesmos pilares que tivemos durante a governação em Santa Cristina só fomos criando aqueles grupos de trabalho, aquelas pessoas que sempre nos ajudaram, aqueles voluntários, sempre tive executivos magníficos que me apoiaram tornando-se mais fácil fazer as coisas.
Eu diria que esta segunda fase também tem sido positiva, com outros desafios, digamos com uma tentativa de criar outras atividades que também se possam tornar tradição, é de facto a população que dirá mas tendo em conta o panorama que eu vejo a nível nacional e a nível de outras freguesias, eu penso que nós acabamos por cumprir com aquilo que nos propusemos à população e que foi sufragado e que foi dando vitórias, sempre importante porque as pessoas estão minimamente satisfeitas porque é muita coisa para fazer.
Há muita coisa que falta. Não é fácil, toda a gente sabe, e o próprio tirsense reconhece, as pessoas da nossa terra são pessoas difíceis de agradar. Sempre que se faz alguma coisa há sempre 50 ou quase 50 por cento que são contra o que podia ser feito de outra forma. Há aquele grupo de pessoas que está alinhada para a crítica, há aqueles que estão alinhados para tentar alterar, mas vamos ouvindo vamos dialogando e vamos tentar melhorar de ano para ano e de evento para evento e de obra para a obra.
Felizmente com a entrada do atual presidente da Câmara Municipal, Alberto Costa, trouxe algo novo para as freguesias que foi capacitar as freguesias com mais verbas para aquelas obras que nós não tínhamos possibilidade de as fazer. Terminar com as ruas de terra é de fato o grande objetivo deste mandato, não só se calhar neste mandato, será nos próximos porque são ainda bastantes as ruas em terra mesmo numa união de freguesias como a nossa que é central. Há muitos caminhos em terra que vamos procurar acabar com eles mas na minha forma de ver e saindo um bocadinho da minha carapaça de Presidente de Junta, avalio de uma forma positiva o nosso desempenho.
DSTS: Quais são as principais intervenções e ações da junta que têm sido efetuadas nas freguesias?
Jorge Gomes: Desde logo a individualidade e a história de cada uma destas freguesias que agora é uma só, foi sempre preservada e esse foi de facto um compromisso que nós tivemos com as pessoas. Dizer que Burgães iria continuar a ter as suas tradições, iria continuar a ter a sua forma de viver, iria ter todos os serviços da Junta de Freguesia também disponíveis como tinha antes da agregação, a mesma coisa aconteceu com São Miguel do Couto, aconteceu em Santa Cristina e é claro em Santo Tirso. Esse foi o ponto de partida, dar a individualidade a cada uma dessas Ex-freguesias mantendo os serviços.
Depois fomos criando novas dinâmicas, trouxemos de Santa Cristina para a União de Freguesias algumas atividades que não aconteciam, lembro-me agora por exemplo dos rastreios. Os rastreios iniciaram se em 2005 na freguesia de Santa Cristina e depois com a agregação foram alargados a Burgães, a São Miguel do Couto e mesmo a Santo Tirso. Depois outra situação que nós procuramos sempre ter em conta é a descentralização das nossas dinâmicas e das nossas obras também.
A primeira ação que nós fizemos foi na Várzea do Monte onde fizemos as primeiras obras em 2014, começamos por essa zona que tinha estado sem nenhuma intervenção durante dezenas de anos e de facto a Várzea agora tem melhores condições, tem melhores ruas, tem iluminação nas ruas que não tinha, essa foi sempre uma preocupação, a descentralização.
Ações que fomos fazendo nomeadamente quando lançamos a necessidade de uma nova forma das pessoas se movimentarem na própria cidade, através das “Toupeiras”. Não era propriamente uma bicicleta fácil de locomoção, foi em 2014 portanto logo no início do nosso mandato, um gesto para alertar as pessoas para aquilo que vinha a seguir que são as ruas que cada vez mais vão privilegiar o peão e as vias cicláveis. E sabendo isso e alertando isso, penso que foi uma alavanca também para que outras instituições com outro peso também avançassem com a importância das bicicletas e a importância da mobilidade. Tivemos o APIC também tem a ver com bicicletas é aquela subida na rua perto do Sanguinhedo, também para aproximar as margens. A cidade muita das vezes era fechada entre o rio do matadouro e o rio Sanguinhedo, e nós queríamos dar aquela ideia de continuidade, de que era preciso aproximar aquelas pessoas, de Fontiscos, de Friães, da Ponte Velha, da Várzea do Monte, de Vilalba, de Argemil, de São Bento da Batalha, era importante fazê-las sentir-se cidade e penso que fomos conseguindo com que essas pessoas se sintam mais próximas da própria Junta de Freguesia saber que podem contar com a Junta de Freguesia.
É essa ação de proximidade que tem sido também muito vincada na nossa estratégia, na nossa forma de gerir a Junta de Freguesia.
O projeto “Unir Sorrisos” também é uma bandeira nossa, é mais visível na altura do Natal mas não acontece só no Natal acontece durante o ano todo. É um projeto que começa no início de dezembro e termina no dia 6, dia dos Reis, termina com o encontro de reis que este ano não vai ser possível pelos motivos que todos conhecemos. No início do ano é feito o encontro de coros, com todos os coros, também para aproximar aquelas pessoas que tenham uma dinâmica própria nas suas paróquias. Somos um país maioritariamente católico mas não é só pela religião é pela forma como as pessoas encaram a atividade de cantar nos coro, dos seus acólitos, catequistas e leitores, é um serviço que prestam gratuito e merecem ser acarinhados também pelas instituições nomeadamente pela Junta de Freguesia. É isso que fazemos com o nosso encontro de coros com todas as paróquias da nossa freguesia que são a Paróquia de São Bartolomeu de Fontiscos, de Santa Maria Madalena, de Burgães, de São Miguel do Couto e Santa Cristina, são cinco paróquias. O ponto alto era a ceia de Natal no dia 24 à noite na Junta de Freguesia da União de Freguesias em Santo Tirso onde nós abrimos as inscrições para todas aquelas pessoas que quisessem naturalmente, só recorriam a essa ceia de Natal aquelas pessoas que realmente estavam sós ou que não tinham possibilidades de outra forma de ter uma ceia de Natal e com muitos voluntários, com muita gente a ajudar foi sempre possível fazermos uma ceia de Natal. Este ano pelos motivos também sobejamente conhecidos, quisemos assinalar esta data e fomos entregar casa a casa, família a família, pessoa isolada a pessoa isolada, uma ceia condigna para que essas pessoas possam ter também um mimo.
O “Cubo Solidário” também foi um projeto que foi lançado por nós e que geralmente as pessoas associam aos brinquedos mas não foi só usado para a recolha de brinquedos para distribuir pelas crianças, foi também usado para recolha de ração para animais, de comida para depois entregar às paróquias e aos serviços paroquiais de assistência.
Penso que o ponto mais forte é a solidariedade, acho que esse deveria ser o grande objetivo e o mais importante de todas as juntas de freguesia, para lá das obras de alcatrão e paralelo, o mais importante tem a ver com a ação social que uma Junta de Freguesia poderá prestar. Fala se muito da descentralização de competências e atribuição de competências às Juntas de Freguesia, as Juntas de Freguesia precisam é que lhes atribuam as competências sociais, apetrechar as juntas de freguesia principalmente as maiores e aquelas que têm mais condições digamos para albergar esse tipo de serviços. Penso que a parte social deveria estar toda centralizada nas Juntas de Freguesia porque são as Juntas de Freguesia que conhecem mais facilmente cada uma das pessoas, sabem aqueles que estão mal e quais são os seus problemas, sabem inclusive se a pessoa está a receber um benefício que até nem deveria ter direito. Poderiam mais facilmente rastrear as pessoas e penso que seria esse o nosso grande objetivo.
Outra grande ação que não poderia deixar de falar é a “Liga Toupeira”, surgiu com o objetivo do reencontro por parte dos atletas, dos dirigentes ou atuais dirigentes, treinadores ou atuais treinadores, até se calhar alguns que ainda são atletas que jogavam futebol nas associações desportivas da União de Freguesias. Foi engraçado ver homens com mais de 35 anos voltar a calçar as sapatilhas e voltar a reencontrar aquele colega amigo com quem jogou há 10 ou há 20 anos atrás, o objetivo foi conseguido tivemos sempre apoio de várias associações, tornou se numa liga bastante conhecida. O nome toupeira foi um novo nome que foi criado por nós e tem uma explicação, o Projeto Toupeira tem a ver com a toupeira que é um animal que facilmente conhece a terra, que vive na terra, que se entranha na terra, e foi um bocado esta analogia que nós quisemos fazer com a terra e criar o projeto. A toupeira tem sido também sem dúvida uma das ações mais relevantes, mais marcantes e que mais mobiliza pessoas, associações e que faz com que para o lado da prática do desporto haja também a prática social e do lazer em todas as ações.
Para não me alongar muito em termos de ações para lá de continuarmos a fazer a Semana de Santa Cristina, passamos a fazer a semana de São Miguel, de Burgães, do Mártir Tirso, que também digo que já era assinalada nas juntas anteriores.
O “Nós de Dança” é também o momento alto do ano onde reunimos todos os grupos de ginásios com classes de dança, que depois nos presenteiam com um espetáculo que tem sempre um tema pode ser os jesuítas, a dança ou até ser o Santo Tirso, vários temas. E felizmente temos conseguido fazer um espetáculo muito interessante na fábrica, este ano também pelos motivos sobejamente conhecidos não será possível.
Destaco um pouco estas situações todas para lá das obras que têm sido feitas, em 2020 foi o ano em que fizemos mais pelos motivos que eu disse há pouco graças ao Presidente Alberto Costa que passou a confiança e lançou o repto às juntas de freguesia para que sejam as juntas de freguesia a fazer da responsabilidade da Junta as obras, naturalmente com o dinheiro encaminhado por parte da Câmara, um valor substancialmente superior àquele que nós vínhamos a receber e faz com que nós possamos fazer muitas obras principalmente nas zonas de Burgães, de São Miguel do Couto, em Santa Cristina, na área envolvente ao Centro de Santo Tirso, já tenho várias obras a decorrer e vão iniciar se outras.
Do meu trabalho destaco mais a parte social e da ação social. A ação social não é só caridade nem solidariedade social é pôr as pessoas em movimento, pôr as pessoas a encontrar-se, a reunir-se, a partilhar os seus problemas e encontrar as soluções para eles.
DSTS: O que ficou por fazer e quais são os grandes projetos que defende para o futuro a breve e a médio prazo?
Jorge Gomes: Fica muita coisa por fazer. Quando acabamos um projeto ou fica em suspenso até ao ano seguinte fica sempre aquela ideia de que alguma coisa correu mal, fazendo um memorando procuramos no ano seguinte melhorar alguns aspetos.
Aquilo ficou se calhar por fazer foi o que ainda não conseguimos totalmente fazer que é mudar um pouco a mentalidade de algumas pessoas que não aceitam algumas mudanças, que não aceitam algum rasgo de inovação e que pensam que as Juntas de Freguesia pura e simplesmente estão agarradas ao poder, ou as pessoas estão agarradas ao poder.
Falta também criar um dinamismo mais bairrista mais assente nas nossas tradições, não termos vergonha da nossa música, das nossas pessoas típicas, de descalçar os sapatos e arregaçar as mangas e de andar de bicicleta por exemplo, porque eu acho que a maior parte das pessoas não andam de bicicleta por vergonha, se nós pensarmos antigamente há uns anos era muito frequente ver as pessoas a andar de bicicleta e eles vinham todos de fatinho e até usavam aquelas molas para prender as calças para não sujar na corrente.
Eu penso que o que nós temos de mudar e que é urgente mas que certamente não será a curto prazo é um pouco essa mentalidade, a mentalidade de termos orgulho de sermos como somos, termos a pronúncia que temos, termos os costumes que temos e defender a nossa terra acima de tudo independentemente de quem está a governar quer a nível nacional quer a nível local. Há uma coisa que ninguém nos tira é o orgulho de sermos de Santo Tirso e se tivermos esse orgulho as coisas tornam-se mais fáceis de fazer.
Uma das piores coisas que pode acontecer a um autarca ou alguém que tenha uma atividade, ou presidente de uma associação é fazer alguma coisa com uma boa intenção e a primeira coisa que lê é uma crítica que não é construtiva, uma crítica destrutiva. Temos que saber lidar com isso porque há de haver sempre aqueles que só sabem dizer mal mas que não os vejo a fazer nada.
Penso que a longo prazo a cidade tem de crescer e vai crescer para todas as áreas. Digamos que a freguesia de Santa Cristina já está a crescer a nível industrial, que é algo que acho que é marcante nestes últimos mandatos. A forma como a zona da Ermida cresceu é de facto muito bem visível. A cidade tem que crescer em termos urbanísticos eu espero que as Câmaras Municipais continuem com a política de controlo da forma como as habitações são construídas, preservar as zonas verdes, devemos ser das freguesias com mais parques por habitante.
Era importante que a longo prazo se mantivesse estas ideias de progresso e de crescimento, é preciso habitação mas controlada tendo em conta a beleza da nossa terra e tendo em conta também a qualidade que nos distingue das outras cidades.
DSTS: Enquanto presidente de junta já trabalhou com três presidentes de câmara (Castro Fernandes, Joaquim Couto e Alberto Costa) e várias equipas de vereação. Como tem sido essa articulação?
Jorge Gomes: Foi sempre uma boa articulação independentemente de poder ou não concordar com o modus operandi de um ou outro. Podendo precisar mais dos Presidentes de Câmara quando se quer trabalhar, quando se quer fazer, naturalmente nós precisamos da Câmara Municipal, as Juntas de Freguesia precisam das Câmaras Municipais, mas as Câmaras Municipais também precisam das Juntas de Freguesia e não é só nas eleições.
Mas foi sempre uma boa articulação, foi interessante porque são três pessoas totalmente diferentes, nomeadamente agora o presidente Alberto Costa tem sido radicalmente diferente na maneira de ser, de estar e de agir. Não diria em relação a alguns pormenores mas acima de tudo houve sempre uma boa ligação.
Castro Fernandes é uma pessoa que me viu crescer e digamos que desde o início, desde as primeiras campanhas em 1997, lembro-me até da campanha de 1993, já lá vão 27 anos, as campanhas longínquas do Joaquim Couto. Eu fui crescendo de uma forma por carolice sempre no meio deles e das atividades que eu sempre gostei de estar envolvido, de fazer, de procurar fazer e de ajudar. Quando surgiu a possibilidade em 2001 de ser o candidato aceitei.
Com o Castro Fernandes foi um trabalho interessante porque eu procurei aprender com ele as coisas boas que ele tem, que são muitas, e também procurei ter uma linha própria de agir.
Depois com a entrada do Dr. Joaquim Couto foi uma entrada a rasgar, o Dr. Joaquim Couto tem uma linha muito não conservadora, mesmo nas obras, na forma de falar com as pessoas e daí ele ter o carisma que tem e que sempre teve.
Alberto Costa é alguém que tem feito um trabalho excelente neste início de mandato dele, neste ano e meio que ele tem como presidente. Não é uma surpresa para mim porque eu já o conhecia, já sabia o estilo dele mas certamente tem sido uma surpresa para muitos outros Presidentes de Junta e para outras pessoas, mesmo para os funcionários municipais. Tem um longo trabalho ainda pela frente para fazer mas penso que vai conseguir se continuar com este estilo de proximidade, de acreditar nas pessoas e valorizar, porque o papel das Juntas de Freguesia muitas das vezes só é valorizado quando convém e não é sempre valorizado. O Alberto tem o feito de uma forma constante e há que dar valor a isso.
São três pessoas que são diferentes, completamente diferentes. Não há ninguém igual também. E mesmo na forma de gerir, na forma de estar, em termos políticos penso que o Alberto Costa é o menos político deles todos, também se calhar ainda não teve tempo para se tornar ou se mudar. Esperemos que não mude, é isso que eu lhe apelava, acho que ele não vai mudar porque sabe que se mudar tem mais a perder do que a ganhar, se mudar que sejam aqueles pequenos pormenores que ele acha que consegue moldar.
Este tempo todo passou muito rápido e ainda tenho contato com o castro Fernandes, tenho-o como amigo. O Alberto tem sido uma excelente pessoa como Presidente de Câmara, com a ligação que tem com as Juntas de Freguesia, sempre tivemos uma ligação muito próxima quer para o bem ou para o mal.
DSTS: A proximidade do presidente da junta de freguesia mais populosa de Santo Tirso é um dos pontos fortes do Jorge? Ainda há poucas semanas atrás o Diário de Santo Tirso teve o privilégio de acompanhar uma campanha de solidariedade em que a junta teve uma participação ativa e o feedback das pessoas é muito positivo.
Jorge Gomes: Ponto forte sim, acaba por ser. Uma pessoa que é próxima das outras para mim isso é bom, e como Presidente de Junta quando as pessoas estão num cargo se não forem próximas das pessoas não estão lá a fazer nada, acho que o Presidente de uma Junta de Freguesia tem de estar acima de tudo disponível e próximo. Quando digo próximo não é estar à beira, próximo é ser passivo e confundir-se, não ter rasgos de prepotência ou de altivez e ser como os outros.
Basicamente é estar ao lado das pessoas quando elas precisam, estar ao lado das associações quando elas também precisam e quando elas não precisam também porque não é só quando somos convidados, digamos que para determinados eventos nos devemos preocupar com as associações. Há Juntas de Freguesia se calhar, não estou a falar das nossas, mas poderá haver Freguesias e Câmaras onde estão sempre à espera que sejam as associações ou as pessoas a vir ter com elas para reclamar ou pedir.
Eu acho que não. Ser próximo é ir ter com, como nós procuramos fazer e eu pessoalmente defendo isso e gosto. Dá-me um prazer enorme quando faço ou quando fazemos algo que não foi porque a associação nos pediu. Nós quando fizemos a semana de Santa Cristina em 2006, a primeira edição, nós fomos ter com as associações e demos-lhes ferramentas para elas se financiarem, com as tasquinhas com as tombolas, essas coisas todas. Quando fizemos a Liga Toupeira fomos ter com as associações, convidamos para participar e fomos explicar aquilo que eles podiam no fundo ganhar ou receber em troca, não propriamente em termos financeiros porque nós não podíamos dar nada em troca mas elas próprias como conseguir rentabilizar os seus espaços.
E de facto ser próximo é ir ao encontro das pessoas, ir ao encontro das populações, ir ao encontro das associações, e nesse aspeto tenho a consciência tranquila.
DSTS: Depois da junta de freguesia de Santo Tirso ser liderada pelo PSD-CDS durante 12 anos, de 2001 a 2013, como conseguiu destronar José Pedro Miranda, uma pessoa igualmente popular e com reconhecidas competências?
Jorge Gomes: O meu objetivo nunca foi destronar ninguém porque aliás eu tinha conversas com ele durante essa altura e lembro-me do tempo que ele estava relutante e que não sabia muito bem se iria ser candidato ou não.
Eu não vou dizer que senti um gosto especial, pelo contrário porque tenho muito em conta o Zé Pedro porque é uma pessoa que eu sempre reconheci valor e que reconheço que é uma pessoa que gosta muito da terra e que é muito afável também na forma como fala com as pessoas e como está em comunidade. De facto foi o adversário mais difícil digamos e os resultados falam por si.
Foi uma vitória especial por ser a primeira da União de Freguesias porque foi rasgar com um paradigma que existia, que um presidente da Junta de Santo Tirso ou da cidade tem de ter no bilhete de identidade Santo Tirso, fui o primeiro a quem isso não aconteceu. Aliás relativamente à junta de freguesia de Santa Cristina eu morava em Monte Córdova, e portanto eu costumo dizer que nunca votei em mim e é verdade que nunca votei na minha lista.
Agora percebo porque muitas pessoas na altura me disseram que eu iria perder, que nós iríamos perder porque pelas razões que disse o Zé Pedro é uma pessoa muito reconhecida na cidade. Eu sempre alertei que numas eleições geralmente quem vem de fora, isto é quem está no poder ou melhor quem se candidata contra o poder nunca ganha as eleições. O poder é que as perde. As pessoas queriam mudar alguma coisa e viram em nós, porque não é só no Jorge viram na lista porque eu dou muito valor à lista a oportunidade de mudar e mudaram muito, espero que estejam satisfeitos e que ninguém é eterno e que certamente um dia vão mudar novamente.
DSTS: Vai ser de novo candidato à junta de freguesia?
Jorge Gomes: Isso eu não sei por vários motivos. Primeiro porque não decido sozinho, posso ter a intenção e isso posso decidir sozinho, a vontade posso ter e estou disponível naturalmente para qualquer serviço que seja para ser feito em prol dos outros. Eu costumo dizer que eu dificilmente saberei fazer outra coisa senão servir, já desde o meu tempo de acólito que foram dezanove anos de acólito que é um pouco isso.
Estou disponível para servir seja como Presidente de Junta, seja como outra função qualquer que o partido, que é neste caso quem decide me incuba como missão. Sempre estive disponível e estou com certeza.
DSTS: Depois de 8 anos como presidente da junta de freguesia de Santa Cristina do Couto e de mais 8 anos como presidente da união de freguesias de Santo Tirso, com um trabalho reconhecido pela população, ambiciona outros desafios políticos ou profissionais?
Jorge Gomes: Como disse na resposta anterior eu tenho esse bichinho em mim. De uma forma ou de outra ele vai crescendo, depois vai surgir nas minhas convicções e na minha vontade, e claro que tenho vontade de fazer coisas ainda maiores. Desde que seja em prol dos outros e seja acima de tudo para o bem dos outros, que seja de uma forma honesta e sincera cá estou disponível para todos os desafios. Há limites de mandatos, só poderei fazer mais um e depois quero continuar a servir. Quero e vou.
DSTS: Sendo Santo Tirso uma das zonas que mais está a sofrer com a pandemia de COVID-19 como vamos sair desta situação e recuperar social, económica e financeiramente?
Jorge Gomes: Esse é um desafio para todos. Eu não sou especialista propriamente na área da saúde, nem tenho uma visão muito concreta de como é que em termos empresariais ou em termos de dinamismo económico se isto vai voltar aos eixos. Portugal é por natureza um país frágil, uma economia frágil qualquer pequena coisa abala a economia, quanto mais uma crise pandémica desta natureza. O nosso concelho não foge à regra, é também um concelho que sempre foi atingido pelas grandes crises, nomeadamente a do têxtil e agora esta do Covid-19.
Só que há uma coisa que nós temos como característica que se calhar nos distingue de grande parte dos outros, os nossos empresários são extremamente fortes, são bons empresários que facilmente se mobilizam e mudam a estratégia e penso que eles vão conseguir rapidamente mal termine esta pandemia, vão voltar a ter bons empregos como temos. Nós temos boas empresas e cada vez surgem mais e é essa a esperança que nos distingue, porque as pessoas de Santo Tirso têm essa característica, são aguerridas podem perder tudo mas a seguir levantam se tornam a construir e vê se muitas vezes por algum incêndio por algum desastre que acontece em famílias elas desenrascam-se.
Também tem outra coisa nós parecendo que não, somos um povo muito solidário e somos umas pessoas que se preocupam com o que acontece com os outros. Acho que é nessa entreajuda, nessa nossa solidariedade entre empresários, solidariedade entre instituições e empresários, e mesmo os próprios trabalhadores serem solidários com os patrões e os patrões solidários com os seus funcionários. Acho que vai ser através daí que poderá ser a poção mágica para voltarmos a progredir.
DSTS: Qual tem sido o principal papel da junta de freguesia de forma a apoiar e até a informar a população seja nas medidas de restrição e proibitivas e a apoiar famílias que estão desde março a passar por dificuldades?
Jorge Gomes: Nós logo em abril começamos a fazer a entrega de refeições diárias, almoço e jantar. Tínhamos duas carrinhas para o efeito e fizemo-lo porta a porta. Cada vez eram mais e penso que nesse aspeto cumprimos o nosso papel e continuamos a cumprir porque essas pessoas continuam identificadas e continuam a ser apoiadas pelos serviços sociais.
Em termos de informação as pessoas já estão de tal maneira invadidas com informação que por vezes há informação demasiada e confunde as pessoas. Eu acho que foi o grande problema desta pandemia, foi informação a mais. Toda a gente falava e tinha uma opinião, os verdadeiros especialistas acabavam por ficar longe e pouco visíveis porque as pessoas gostam mais de ver aqueles que costumam ver na televisão frequentemente. Penso que terá sido um erro e a culpa é dos meios de comunicação social nacionais porque de facto alguns deles prestam um péssimo serviço às populações, teria sido tudo muito mais fácil em termos de informação para que as coisas corressem melhor.
Isto está longe de terminar, nós continuamos atentos e a apoiar essas famílias principalmente aquelas que têm crianças e vamos continuar a fazê-lo, é o nosso serviço e como dizia no início da entrevista o grande papel de uma Junta de Freguesia tem a ver com o social e se se não tiver essa área penso que não faz sentido existir a Junta de Freguesia e a Câmara que tome conta de tudo.
Tem de ser uma Junta de Freguesia a dar a mão às pessoas, é isso que nós temos feito. Temos tido o cuidado de ligar a população, às pessoas mais idosas que estão isoladas. Temos uma pessoa que faz essas ligações diárias para saber se precisam de alguma coisa, se precisam de medicação em casa nós levamos a medicação à casa, levamos os alimentos que as pessoas possam precisar. Não são só pessoas com dificuldades financeiras que são ajudadas são pessoas que estão isoladas, muita das vezes a maior pobreza da pessoa não é propriamente não ter dinheiro porque se calhar tem muito mas está só, e isso é de fato o alarme, é um sinal dos nossos dias e cada vez será pior.
Mas cá estaremos para ajudar também essas famílias
DSTS: Acredita que Portugal, os portugueses e todos os residentes no concelho de Santo Tirso vão voltar nas próximas semanas e de forma gradual à vida normal, que tinham antes de março do ano passado?
Jorge Gomes: Eu acho que nunca mais vai ser o mesmo, a nossa vida nunca mais será a mesma. Penso que dificilmente voltaremos nos próximos tempos a ter aquelas reuniões, aquelas festas, aqueles convívios, os estádios cheios. Penso que não será para breve apesar que quem manda, neste caso o Presidente da República, vai ter agora uma situação ambígua com a aproximação das eleições e a campanha eleitoral. Para mim seria um erro ele levantar o estado de emergência só pelo facto de existirem as eleições.
Nos próximos dias vamos continuar a bater recordes porque o frio também não ajuda e esperamos que a vacina agora seja a esperança, mas o comportamento das pessoas é que tem de ser exemplar. É preciso ter muito cuidado e é preciso continuar esta luta porque senão vamos continuar durante muito tempo porque a seguir a terceira vaga, amanhã a quarta e depois as vacinas não vão chegar todas de uma vez, haverão sempre aqueles que não vão querer tomar e continuamos no mesmo risco.
Se este vírus se tornar presente nas nossas vidas nós vamos que remédio ter de nos adaptar a ele como nos adaptamos ao vírus da gripe.
DSTS: Que mensagem gostaria de deixar a todas as pessoas de Santo Tirso, S. Cristina do Couto, S. Miguel do Couto e Burgães?
Jorge Gomes: Uma mensagem de esperança, de agradecimento também por me terem dado o privilégio de servir, de procurar servir durante estes anos todos as populações quer seja só de Santa Cristina quer da União de Freguesias agora. Dizer-lhes que se alguma coisa não lhes agradou na forma de estar e de agir da minha pessoa só lhes tenho a dizer que estou a ser o mais eu possível, é isso que eu acho que as pessoas devem ser, é serem elas próprias porque de fantochada e de show off as pessoas já deveriam estar fartas e estão certamente. Que podem contar sempre com as portas abertas, com uma mão amiga e uma palavra, é o mínimo que lhes poderei dar.
Caso não consiga resolver o problema e que tenha que dizer não, a palavra não para mim será sempre a palavra mais difícil de dizer e sempre que puder direi sim.
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