Privados de trabalhar a 100% há mais de um ano, com muitas restrições e proibições, são obrigados a ter a porta do seu restaurante fechada desde Janeiro, funcionando apenas em takeaway.
Estamos já em abril, esta situação de restrições e proibições decretadas pelo governo e autoridades de saúde já dura desde março do ano passado.
Diário de Santo Tirso: Como é ter um restaurante com funcionários e contas para pagar mas impedidos de trabalhar em plenas funções há tanto tempo?
Joaquim Silva: Muito complicado, ou seja, vamos dizer extremamente complicado conseguir ter cá na mesma as pessoas e estarmos a laborar.
Diário de Santo Tirso: Como era o antes e o depois da pandemia no restaurante Excelência Wine House? O que tiveram que mudar?
Joaquim Silva: O Excelência Wine House sempre foi um restaurante de sala, trabalhava essencialmente na sala e que nos obrigou a reinventar com esta pandemia, onde fomos dos primeiros a fazer o delivery e a fazer o takeaway, portanto nós não tínhamos takeway, foi implementado após a existência desta pandemia.
Diário de Santo Tirso: Com as restrições impostas à restauração, o valor das receitas do restaurante é suficiente para compensar as despesas fixas mensais? Ou já teve que despender de poupanças pessoais para compensar essa falta de receitas?
Joaquim Silva: Não é de forma alguma suficiente, dará para cerca de 20 a 30% das nossas despesas, já tive que despender bastante dos meus valores pessoais incluindo ter que me endividar pedindo um crédito para fazer face a esta pandemia e poder ter os postos de trabalho cá.
Diário de Santo Tirso: O take away e as entregas ao domicílio têm tido o sucesso esperado? Conseguem equilibrar as contas trabalhando apenas com estas modalidades?
Joaquim Silva: Não conseguimos equilibrar as contas mas conseguimos pelo menos manter a nossa clientela, conseguimos manter os postos de trabalho porque é uma ajuda aos valores que nós pedimos e ao nosso valor pessoal que é cá metido, tudo complementado conseguimos fazer face e manter aberto ao longo deste ano. Não é de forma alguma suficiente mas ajuda a minimizar.
Diário de Santo Tirso: Já tem noção das quebras desde o início deste ano? E relativamente ao ano passado, comparando com o ano anterior, ou seja 2019?
Joaquim Silva: No nosso caso é complicado comparar com 2019 porque nós tínhamos um espaço só em 2019 e a partir de janeiro de 2020 passamos a ter dois espaços. Embora depois face a esta pandemia tivemos que nos desfazer de um dos espaços em agosto de 2020. Não é nada fácil. Temos uma percentagem de quebra de sensivelmente 60%. Contabilisticamente temos apurado entre os 60 e os 80%.
Diário de Santo Tirso: O ano passado, com o aparecimento da pandemia, tiveram que fechar as portas quase de um dia para o outro. Nove meses depois a solução encontrada por parte das autoridades de saúde e do governo foi a mesma. Encerrar os estabelecimentos comerciais tem contribuído para resolver a pandemia na sua opinião?
Joaquim Silva: Tem minimizado, porque infelizmente todos nós acabamos por cometer erros, acabamos por criar infrações. Vemos muita gente a prevaricar e que não cumpre minimamente as regras. Se toda a gente tentasse cumprir as regras, o mínimo possível, de certeza que não tínhamos chegado a este ponto. Com todas aquelas aberturas e abébias que foram dadas no natal e no início de janeiro fez com que isto aumentasse e por isso não houve outra solução. Entre o fechar por um dia ou dois, voltarmos a abrir e depois tornarmos a fechar, é preferível assim ter fechado, toda a gente tem noção do que são as coisas e quando retomar, retomar a sério. É isso que eu espero.
Diário de Santo Tirso: Que medidas consideraria para controlar a pandemia em alternativa a fechar as pessoas em casa e a fechar o comércio e restaurantes?
Joaquim Silva: Sinceramente não vejo muitas alternativas perante aquilo que já disse anteriormente porque nós somos um país de prevaricadores, existe uma lei e estão logo dez a tentar furar a lei. Portanto não há muitas soluções, só mesmo assim. Só mesmo as pessoas todas ficando em casa é que conseguimos controlar e vimos que diminuiu.
Diário de Santo Tirso: Para além do layoff já usufruíram de algum apoio por parte do governo ou da câmara municipal? Esses apoios têm sido suficientes para compensar a perda financeira?
Joaquim Silva: Do governo só mesmo o layoff, da Câmara Municipal de Santo Tirso tivemos o apoio na distribuição de refeições pela altura do Natal e a isenção das taxas da esplanada durante o ano de 2020 e agora em princípio 2021 está a decorrer ainda, portanto já é alguma coisa. Como se costuma dizer, migalhas é pão e o que vier é bem vindo. Se formos a ver outros municípios têm apoiado mais de outras formas mas nem todos têm a mesma capacidade financeira e temos de ser nós a lutar, não podemos estar à espera das instituições para nos ajudar.
Diário de Santo Tirso: Já se viram obrigados a dispensar algum funcionário desde março do ano passado?
Joaquim Silva: Infelizmente tivemos dois funcionários que cessaram contrato entretanto e nós não fizemos a renovação dos mesmos. Não tínhamos trabalho para eles, mesmo com o incutir o delivery, fazer as entregas não chegava trabalho para toda a gente. Tivemos mesmo que dispensar. Neste momento temos nove pessoas cá a trabalhar.
Diário de Santo Tirso: O anterior presidente da associação comercial e industrial de Santo Tirso, Miguel Rossi, em entrevista ao Diário de Santo Tirso, é da opinião que se alguém é impedido de trabalhar, deveria ser indemnizado a 100%. Partilha da mesma opinião?
Joaquim Silva: Partilho. Partilho sim, a partir do momento em que qualquer pessoa que é impedida de trabalhar e não é porque quer deve ser pago na totalidade, pago a 100%, lutaram para isso, descontam para isso, acho que o devem fazer, a dificuldade é de todos e as famílias também as têm.
Diário de Santo Tirso: A restauração tem sido uma das áreas mais afetadas pelas medidas de contenção da pandemia. Aqui no Excelência Wine House já tiveram algum caso de contágio da COVID-19?
Joaquim Silva: Felizmente, como eu tenho dito aos meus colaboradores, andamos a fugir e andamos pelo meio das pingas da chuva e temo-nos safado. Um ano com entregas no domicílio, com entregas no takeaway, existe bastante contacto, tem-nos corrido muito bem mas também temos tido o máximo possível de prevenção. Para já não temos nenhum caso.
Diário de Santo Tirso: Com uma reabertura e a volta a “normalidade”, aqueles clientes que costumavam ser diários, acredita que vão voltar após este longo afastamento?
Joaquim Silva: Não tenho a mínima dúvida. Todos eles, penso eu que estão, mortos por vir ao restaurante. Eu mesmo estou morto por ir comer fora. Não podemos esquecer que grande parte da nossa sociedade tem um défice de sítios onde fazer as refeições. É complicado para um camionista, para um vendedor, para um bancário, para um profissional de seguros, para um professor levar a refeição para o seu posto de trabalho e comer lá. Obrigatoriamente têm de comer no restaurante. Seja num ou seja noutro isto irá aumentar e as pessoas irão vir.
Diário de Santo Tirso: Com a pandemia e com a mudança de hábitos das pessoas isso não vai interferir com que os clientes regressem?
Joaquim Silva: Interferir vai e vamos ter aqui um período de adaptação. As pessoas primeiro vão hesitar em vir, segundo habituaram-se a comer em casa. Mas nós somos um país em que as pessoas gostam de ter um mínimo de conforto e que neste momento o conforto de vir a um restaurante não é a mesma coisa que comer em casa, não tem que se lavar a louça, não tem que se arrumar. Mais importante que isso, nós precisamos de tempo para as nossas esposas e as nossas esposas precisam de ter tempo para o marido e para os filhos. Se tiverem a cozinhar ou o marido ajuda e muitas vezes não consegue porque também vem de trabalhar ou ao contrário, a esposa vai ajudar o marido a cozinhar. É muito fácil ir buscar a comida ou até ir ao restaurante e depois conviver do que estar confecionar. Um dia até podem fazer e ajudar mas todos os dias não, eles têm essa necessidade. Nós precisamos de conforto para os nossos filhos, para as esposas quem as tem, para as namoradas e para os maridos.
Diário de Santo Tirso: Sente-se esperançado num futuro promissor? Ou acha que esta crise sem precedentes vai afetar durante muitos anos aqueles que trabalham por conta própria e que têm os seus negócios?
Joaquim Silva: Embora esteja esperançado que vamos dar a volta por cima somos um país de pessoas que se reinventam e que damos facilmente a volta por cima das coisas mas vai durar, veio para durar e ainda vai estar aqui algum tempo para se resolver. Não podemos esquecer que para fazer como eu fiz frente a estas dificuldades pedimos empréstimos, criamos dívidas. Os apoios que vieram não são suficientes e vamos ter necessidade de as pagar, isto a nível empresarial mas também a nível individual. Todas as pessoas acabaram por fazer um bocado isto e o dinheiro não vai ser suficiente para as pessoas fazerem frente a todas as situações do momento. Isto vai prolongar no tempo ao longo do tempo pelo menos entre dois a três anos.
Diário de Santo Tirso: Que mensagem quer deixar a todos os clientes do Excelência Wine House?
Joaquim Silva: Logo que seja possível que voltem, venham provar novamente ou degustar as nossas iguarias, todos os nossos pratos. Os nossos espaços estão com todas as garantias exigidas pela DGS, temos distâncias de segurança, temos desinfetantes, andamos de máscara. Se há algum sítio que hoje em dia é seguro de certeza absoluta que são os restaurantes. Além do que já faziam até agora com o controlo da HCCP agora temos mais as normas que acrescentaram, determinadas pela DGS. Voltem, estarão em segurança, aproveitem para desfrutar de uma boa refeição em sossego.
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