Já fez 15 anos que a maternidade do Hospital de Santo Tirso foi encerrada. Foi no dia 19 de junho de 2006 e na altura, o argumento usado para o encerramento foi de que a maternidade não tinha condições de segurança e que punha “em risco a vida das parturientes e dos recém-nascidos por ausência de condições técnicas e de segurança”.
O encerramento da maternidade do Hospital de Santo Tirso foi decidido pelo ministério da Saúde, em despacho divulgado no início de março de 2006. Na altura José Sócrates era o Primeiro-Ministro num governo de maioria absoluta do Partido Socialista, António Correia de Campos era o Ministro da Saúde e os secretários de estado da saúde eram Manuel Pizarro e Francisco Ramos, este último é o ex-coordenador da task force da vacinação contra a COVID-19 envolto em grande polémica no início deste ano tendo acabado por se demitir.
Em declarações ao Jornal de Notícias, Luís Graça, presidente do Colégio da Especialidade de Obstetrícia e Ginecologia, defendeu, nesse ano de 2006, o encerramento de cinco ou seis blocos de parto por falta de condições, entre os quais o do Hospital de Santo Tirso. No entanto o diretor do Hospital de Santo Tirso, em 2006, Carlos Oliveira e o obstetra Strecht Monteiro discordaram e defendiam que o serviço de maternidade do hospital não tem motivos para ser encerrado.
Em 2006 era Presidente da Câmara de Santo Tirso, Castro Fernandes, que se mostrou contra essa decisão. “Há uma pressa excessiva para criar a política do facto consumado”, dizia Castro Fernandes em 2006, afirmando que caso se concretizasse esse encerramento o governo teria de “compensar” o concelho, nomeadamente com a realização de obras no hospital.
A Comissão de Defesa da Maternidade de Santo Tirso (CDMST) numa primeira fase organizou protestos e posteriormente colocou uma ação no tribunal para impedir o encerramento, que se veio a revelar infrutífero: “A autarquia tem um papel fundamental nesta matéria. Tem os meios e tem os juristas. Tinha obrigação de ter interposto uma segunda providência cautelar”, afirmou Jaime Toga, da CDMST.
No ano seguinte, em 2007, o Governo aprovou a criação do Centro Hospitalar do Médio Ave, agrupando os hospitais de Famalicão e Santo Tirso, com sede em Santo Tirso, como ainda está até hoje. Este centro abrange todas as unidades de saúde pública de Santo Tirso e Trofa.
Em reportagem feita pela RTP, em 2007, um ano após o encerramento, Castro Fernandes dizia que que “já passou tudo”, prosseguindo de seguida, “nem falo sobre o encerramento da maternidade, agora temos em Santo Tirso o Centro Hospitalar do Médio Ave e já foi tudo dito sobre esse assunto”, sentenciava na altura o Presidente da Câmara de Santo Tirso. A RTP constatou nesse ano que “embora sem números oficiais, parece ser ponto assente entre grávidas e obstetras da região que os bebés de Santo Tirso passaram quase maciçamente a nascer nos hospitais e clínicas privadas das redondezas”.
“As pessoas acomodaram-se e ninguém fala no encerramento da maternidade”, referiu à Lusa Daniel Carvalho em 2007, um habitante de Santo Tirso que, um ano antes, também tinha protestado contra a decisão tomada pelo Governo. “Quem mora, por exemplo, em Vilarinho tem que ir para Vizela e quem mora em Monte Córdova tem que ir para Paços de Ferreira”, calculava Daniel Carvalho, tendo em conta o número de quilómetros e o tempo que demora um habitante de uma dessas freguesias a chegar a Famalicão ou ao Porto.
José Dias, o médico que, em 2006, era o diretor do Hospital de Santo Tirso passou a ser o responsável pelo Centro Hospitalar do Médio Ave que, além de Santo Tirso, não esteve disponível para falar à Lusa.
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