Fazer um resumo da temporada (bastante) atribulada torna-se difícil. Ainda assim, é bom recordar todos os pormenores da caminhada do Clube de Santo Tirso neste que foi o regresso do Campeonato de Portugal (CdP) ao Abel Alves de Figueiredo.
O Tirsense recebeu a notificação de que iria participar no CdP a 17 de junho de 2020 e, desde aí, começou a formar o plantel 20/21. Como se costuma dizer na gíria futebolística, “equipa que ganha não se mexe”, a opção foi manter 16 elementos do plantel, que viria a ser reforçado com mais 6 jogadores, e continuar com Tonau ao leme. Olhando para a qualidade existente, podemos afirmar que o Tirsense tinha os chamados “quatro pilares”, ou seja, um bom guardião, um “patrão” na defesa, um “motor” no centro do terreno e um goleador na frente de ataque.
Até aqui, nada a dizer. Parecia que o Tirsense iria ter um campeonato tranquilo, com algumas dificuldades mas tranquilo, e que poderia, pelo menos, lutar pelos 5 primeiros lugares da Série B do CdP, mas no futebol, as estatísticas apenas contam para o totobola e as previsões mudam de figura de um dia para o outro.
A primeira contrapartida da época foi a 29 de agosto, ainda na pré-temporada, quando o Tirsense viu o seu “Homem Golo” lesionar-se gravemente. Aquela que foi, naturalmente, a renovação mais sonante teria que parar por um longo período de tempo.
Ainda assim, o Tirsense entrou no CdP com uma vitória frente ao já experiente nestes voos São Martinho. No dia seguinte, uma (enorme) contrapartida para os jesuítas: o primeiro “ataque” da Covid-19 ao plantel. Como mandam as regras, havendo um caso positivo, todo o grupo tem de ficar isolado durante 14 dias. Ou seja, o Tirsense fez o seu primeiro jogo e logo depois parou cerca de 15 dias, sem treinar nem jogar, havendo uma grande perda de ritmo. Mesmo assim, houve o regresso aos jogos logo para a Prova Rainha na Madeira onde o Tirsense venceu, esclarecidamente, o União da Madeira por cinco golos sem resposta.
De adiamentos em adiamentos devido ao maldito vírus que atacara também as outras equipas, o Tirsense viu, nesse período, mais um dos seus “pilares” lesionar-se: O guardião Christian, figura intocável e, sem dúvida, dos melhores na posição neste campeonato.
O Tirsense voltou aos jogos frente ao Olímpico de Montijo (Taça de Portugal) onde outro “fantasma” se apoderou da equipa: os (demasiados) penaltis. Esse jogo viria a terminar com vantagem de três bolas a duas para os de Montijo com dois penaltis a seu favor. Na mesma semana, jogo frente ao Fafe onde, mais uma vez, dois penaltis ditaram o resultado final (1-3) favorável aos justiceiros.
Como se não bastasse, eis que houve uma nova vaga (e de que maneira) de infetados no plantel jesuíta. Novamente uma paragem de 14 dias… e nesse mesmo período a saída de dois jogadores pouco utilizados: Bobô e Pedras.
Quase um mês depois o Tirsense volta à competição, sem ritmo, com bastantes jogadores que vinham da recuperação e sem sequer uma semana de treino. O resultado foi estrondoso, 5-0 frente ao atual líder Pevidém e, para variar, dois penaltis contra. Já vamos em 6 penaltis em 3 jogos…
Mesmo com todas estas dificuldades, o Tirsense conseguiu “colorir” o período com uma vitoria e empate seguidos fora de portas. Ao terceiro jogo em casa alheia, o Tirsense voltaria a perder e, adivinhe-se, mais um penalti… Este resultado ditou mais uma contrapartida: mudança de equipa técnica.
Já com Quim Berto ao leme, o Tirsense voltara às exibições vistosas mas sem ponta de sorte, empate sofrido no último minuto frente ao Felgueiras e derrota com a equipa “B” do Rio Ave.
No entanto, no encerrar da primeira volta, o Tirsense conseguiu mesmo o triunfo na casa do Brito onde, mais uma vez, houve uma grande penalidade. De realçar o regresso de Chidera e Christian à equipa.
No “virar da página” do campeonato, deu-se mais um momento sempre intranquilo: a demissão da direção e consequente entrada dos novos corpos diretivos.
A duas derrotas seguidas nos primeiros jogos da segunda volta trouxeram mais um “fantasma” à equipa: as expulsões (uma em cada jogo), que dificultou, e de que maneira, a estratégia. Mais difícil ainda foi digerir a saída do goleador Chidera que, independentemente dos motivos, fragilizou um pouco mais a equipa.
Regresso às vitórias para o Tirsense, por duas vezes seguidas, mesmo com uma expulsão pelo meio. Parecia ter passado o turbilhão todo depois da épica vitória em Fafe, mas não.
Na jornada seguinte, nova derrota para os comandados de Quim Berto. No final desse jogo, mais uma “novela” no seio da equipa: a rescisão por indisciplina de Christian, segundo comunicado do Clube.
O empate em Vila do Conde soube a pouco mas ainda deu uma réstia de esperança à turma tirsense.
Os dois encontros seguintes dariam duas derrotas (mais um penalti pelo meio…) que sentenciou as espectativas do Clube em ficar nos cinco primeiros. Pelo meio, a saída de Tiago Moura que rumou aos Açores.
O “amargo” sorriso aconteceu mesmo no último suspiro da época onde os jesuítas venceram e garantiram a manutenção nos campeonatos nacionais com… mais uma expulsão!
Feitas as contas, 11 pontos na primeira metade mais 10 na segunda dão 21 a favor do Tirsense que serviram para atingir o objetivo mínimo da época atribuladíssima. Visto desta perspetiva, acaba por ser um “bom” desfecho depois de casos, penaltis, mudanças e expulsões de oito em oito dias.
Na próxima temporada o Futebol Clube Tirsense continuará no CdP, que passará a ser o 4º escalão do futebol português, derivado à criação da Liga 3 que se apoderará da 3ª divisão portuguesa, atual CdP.
Em suma, uma época que tivemos do 8 ao 80 e vice-versa de 8 em 8 dias.
Francisco Martins Moreira
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