O Bloco de Esquerda pretende que seja criado um centro de ciência cidadã no Vale do Ave.
O crescimento da indústria no Vale do Ave tem características muito particulares, que se relacionam com a própria contingência económica que ora permitiu ora impossibilitou uma aproximação à realidade da industrialização de outros territórios nacionais e europeus. Apesar do desenvolvimento económico, tudo aconteceu sempre numa lógica condicionada, com limitações objetivas (como por exemplo a limitação ou mesmo proibição de aquisição de novas máquinas) que criou uma “arte do engenho” com técnicos que fizeram perdurar o tempo de vida da maquinaria mais do que o habitual. Esta relação, diferente da convencional, entre a Ciência e a Tecnologia foi sempre o motor deste crescimento urbanisticamente desorganizado e industrialmente atrasado.
“A tecnologia não deriva necessariamente da ciência, antes a precedeu muitas vezes, mercê de procedimentos intuitivos (…). Sustentada em racionalidades económicas difusas e na aceitação social, a tecnologia é determinada, em suma, pelas conjunturas do mercado e pela economia de processos.” É dessa evolução tecnológica partilhada – apesar de distinta de fábrica para fábrica – que surge uma nova identidade cultural, tendencialmente universalista do ponto de vista classista e do modelo económico.
O Vale do Ave é, por isso, um caldeirão de contradições de classe, onde o avanço do capitalismo industrial promove, por isso mesmo, as condições objetivas para o aparecimento de um movimento sindical forte e organizado, dada a consciência social de um setor que se viu obrigado a mudar do campo para a cidade sem sair do seu território. A economia de subsistência, em grande parte sustentada por teares manuais, foi engolida pelos complexos industriais que padronizam estilos de vida. Dando lugar a um verdadeiro laboratório de experiências sociais.
Segundo o Bloco de Esquerda, o caso do Património Industrial do Vale do Ave, respeitando o seu historial económico, social e político, necessita de reunir à sua volta académicos e operários, autarcas e o Ministério da Cultura, associações de defesa do património e entidades públicas da área. Só assim, será possível olhar esta realidade do passado com os olhos postos no futuro.
Em 2021, a Assembleia da República aprovou um projeto do Bloco de Esquerda. Incide na valorização da riqueza patrimonial, cultural e social da região do Vale do Ave:
a) Solicitando à Direção Geral do Património Cultural (DGPC) um levantamento dos imóveis industriais do Vale do Ave, tendo em vista uma eventual classificação dos mesmos;
b) Criando uma linha de financiamento para investigação científica da Fundação para a Ciência e a Tecnologia com o objetivo de aprofundar o conhecimento científico e académico sobre o objeto em causa;
c) Elaborar um novo Roteiro Histórico do Património Industrial do Vale do Ave através do Turismo de Portugal e do Turismo do Porto e Norte de Portugal.
A par dessa decisão, o Bloco propõe no seu Programa Eleitoral para estas Legislativas de 2022 o “alargamento dos Centros de Ciência Viva no país, aproximando este programa da realidade educativa, social e cultural desses territórios” , que venha complementar o Museu da Industria Têxtil da Bacia do Ave, criando um espaço de Ciência Cidadã, que permita a qualquer cidadão encontrar um espaço e apoio para propor e desenvolver os seus próprio projetos.
O Bloco de Esquerda argumenta que “a produção de conhecimento através da ciência, a sua disseminação e partilha são instrumentos essenciais para a luta contra o obscurantismo e a ignorância em geral, que põem em causa não só a compreensão e resolução das presentes emergências ambientais, sanitárias e sociais, mas também a maneira como perspetivamos e lidamos com potenciais desafios e crises futuras”.
Segundo o partido liderado por Catarina Martins “assiste-se atualmente a uma rápida e preocupante erosão da confiança do público na evidência científica e a uma degradação sistémica da governança da ciência, frequentemente sem estratégias informadas e de difícil aplicação, sustentadas por um investimento público anémico e manifestamente insuficiente, optando frequentemente por preterir ciência fundamental por ciência aplicada de duvidosa qualidade centrada numa visão utilitarista da ciência como mero instrumento económico e assente na ideia simplista e redutora de que crescimento económico é sinónimo de qualidade de vida”
“São assim urgentes políticas que revertam esta situação e que garantam a execução de objetivos definidos após reflexão profunda e discussão alargada, e que viabilizem e consolidem infraestruturas de investigação científica e a formação e manutenção de trabalhadores qualificados que dentro do sistema científico nacional promovam efetivamente a criação de conhecimento e inovação, a defesa dos valores imateriais da ciência e da cultura científica e, direta e indiretamente o aumento da prosperidade, saúde, segurança e bem estar de todos os cidadãos. Um Centro de Ciência Cidadã instalado no território do Vale do Ave será uma oportunidade para dar a conhecer o património material e imaterial deste território, não perder o conhecimento técnico e científico produzido ao longo dos últimos cem anos por operários e técnicos industriais e, por isso, desenvolver um espírito crítico e científico logo nas gerações mais novas. Só uma Ciência de causas promove uma Democracia forte”, termina o Bloco de Esquerda.
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