Acompanhando de perto a grave crise económica que o comércio local está a atravessar, o Diário de Santo Tirso entrevistou Miguel Rossi, Presidente da Associação Comercial e Industrial de Santo Tirso (ACIST).
Miguel Rossi preside a ACIST desde 2016, tem vindo a acompanhar os efeitos desta pandemia no Comércio e Indústria de Santo Tirso e tem reunido esforços para ajudar e apoiar os comerciantes numa das piores épocas de sempre para o comércio local.
O futuro é incerto e ajudas por parte do governo são urgentes para atenuar os efeitos desta pandemia.
Diário de Santo Tirso (DSTS): Qual o papel que a ACIST tem desenvolvido em Santo Tirso para ajudar a combater os efeitos da pandemia de covid-19 no comércio local?
Miguel Rossi: A Associação tem dado todo o apoio dentro das suas possibilidades, nomeadamente, no esclarecimento e ajuda na preparação e elaboração das candidaturas às diversas medidas lançadas pelo governo. Além disso, continuamos diariamente a desenvolver a nossa atividade de apoio ao nível da contabilidade, criação de negócio, segurança social, apoio jurídico, gabinete médico, planos de formação a centenas de empresários e comerciantes do concelho.
Em termos mais concretos, em Maio último, numa altura em que se pretendia retomar a atividade comercial normal após o período de confinamento que se tinha atravessado e face à grave crise económica, a ACIST lançou a 3ª Edição do “Santo Tirso à Mesa”, que se realizou durante o mês de junho e que contou com a participação de diversos restaurantes do concelho.
Já este mês, a Associação Comercial e Industrial de Santo Tirso lançou ainda a Campanha denominada “Rostos do Nosso Comércio”, como forma de sensibilizar a comunidade para a necessidade de apoio à revitalização da economia local.
DSTS: A ACIST tem dados acerca dos novos desempregados e falências de empresas em Santo Tirso desde que a pandemia surgiu em Março? Se sim, quais são?
Miguel Rossi: Sabemos que, pelos dados que foram disponibilizados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional, desde o mês de início da pandemia, ou seja, Março até Outubro, o número de desempregados no concelho inscritos no IEFP cresceu 10%.
No entanto, sabemos igualmente que existem muitas empresas que continuam a utilizar a figura do lay-off e do apoio à retoma progressiva e que, quando estes apoios terminarem, poderá ter consequências gravosas no aumento do desemprego. Infelizmente, é público e notório o encerramento de muitas empresas e de estabelecimentos comerciais.
DSTS: Receia que haja despedimentos em massa se a situação se prolongar muito mais tempo?
Miguel Rossi: Acho que é uma inevitabilidade que o desemprego irá aumentar. O problema é que alguns responsáveis ainda não perceberem que, só com ajudas diretas, concretas e rápidas às empresas, é que as mesmas poderão manter os atuais postos de trabalho. Estamos a assistir a uma morte lenta da economia, com impacto direto no emprego e sentimo-nos impotentes para travar essa realidade.
DSTS: Qual a posição da ACIST em relação às medidas de apoio anunciadas pelo governo?
Miguel Rossi: Apesar da Covid-19, até determinada altura, ser totalmente desconhecida por todos os agentes, penso que, nesta segunda vaga e já com um maior conhecimento dos efeitos da pandemia, o Governo teria condições para ter antecipado as medidas de apoio à economia em vez de continuar com uma postura de reação na tomada de decisões. Com tudo isto, a economia local, e, sobretudo, os sectores do comércio e restauração/hotelaria estão a desesperar. O facto é que as medidas são insuficientes, demoradas na aplicação prática e por vezes sem o impacto desejado.
Continuamos a defender que o Governo deveria financiar diretamente a atividade económica e a manutenção dos postos de trabalho em vez de se subsidiar o desemprego.
Chegamos ao ponto de nos obrigarem a fechar os estabelecimentos, sem que o Estado se responsabilize diretamente pela totalidade das perdas de vendas. O Governo, nestes fins de semana de horário muito limitado, ainda por cima, numa altura que é normalmente época alta de vendas no ano, deveria indemnizar a 100% o valor não faturado.
Se não nos deixam trabalhar, então temos de ser indemnizados por esse facto, isto não tem discussão!
DSTS: Relativamente à Câmara Municipal de Santo Tirso considera que o apoio que tem sido dado aos comerciantes é suficiente?
Miguel Rossi: Dada a gravidade e extensão dos problemas, a realidade é que o poder de intervenção de uma Câmara nestas situações é limitado. Neste caso, desde o início da pandemia, houve sempre uma colaboração estreita com a ACIST e uma vontade de ajudar o mais possível o comércio local. Aliás, a última ação desenvolvida nesse sentido pelo Município com o serviço de entrega ao domicílio de refeições para ajuda à restauração é um bom exemplo desse apoio.
DSTS: Fizemos há poucas semanas atrás uma reportagem com alguns comerciantes de Santo Tirso. As opiniões são unânimes, é necessário travar a pandemia de covid-19 mas as restrições são quase um assassinato à iniciativa privada. Que medidas diferentes poderia tomar o governo de António Costa? E a Câmara Municipal de Santo Tirso?
Miguel Rossi: No início do Covid 19, o governo tomou algumas medidas, nomeadamente as linhas financeiras Covid e o chamado lay-off simplificado, que permitiu que o sector produtivo conseguisse ter alguma sustentabilidade. Agora, para o comércio em geral, existe uma grande deriva. Medidas a conta gotas, insuficientes, sem um plano articulado de ação que permita aos empresários e comerciantes perceberem atempadamente com o que podem contar ou ter alguma esperança para aguentar esta fase.
Se queremos mesmo preservar as empresas e o emprego, temos de as libertar ao máximo dos custos fixos, com a suspensão ou cancelamento de pagamentos que deverão ser assumidos pelo Estado e não apenas adiados ou prolongados no tempo ou serem pagos em prestações. Os apoios de “atirar para a frente” ou adiar pagamentos nada resolvem e apenas permitem atrasar o inevitável, o encerramento de mais empresas.
Em relação ao Município, como já disse, não tem capacidade, por si só, de resolver o problema de fundo, pois isso é da responsabilidade do Governo de Portugal. No entanto, gostaríamos que se revertesse a medida da suspensão do pagamento dos parquímetros até ao final do ano, de forma a permitir uma maior disponibilidade de estacionamento para os clientes do comércio e serviços da cidade e do concelho.
DSTS: Quais são as perspetivas futuras para o comércio em Santo Tirso, quando a pandemia terminar?
Miguel Rossi: É difícil prever. Depende de quantos mais meses esta situação pandémica durar, da rapidez da retoma da economia e sobretudo da capacidade deste Governo ser parceiro dos comerciantes. Todavia, tenho a esperança que uma maioria dos estabelecimentos comerciais consiga sobreviver. Contudo, receio que a crise económica se prolongue por muito mais tempo, mesmo depois do término da pandemia.
DSTS: Qual a mensagem que gostaria de enviar a todos os associados?
Miguel Rossi: A mensagem é de ânimo e resiliência para todos os que estão a sofrer com esta crise. Mas as pessoas estão fartas de palavras de conforto e esperança. Querem é ajuda direta para manter os seus estabelecimentos abertos e os respetivos postos de trabalho. Da nossa parte, continuaremos a ajudar, como até aqui, e a reivindicar e a alertar todos os agentes com poder de decisão para a extrema gravidade da situação atual do comércio e indústria.
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