António Pais Lacerda, médico e diretor do serviço de Medicina Interna II do Hospital Santa Maria, em Lisboa, alerta que muitas pessoas infetadas com covid-19 têm medo de perder o salário ou até mesmo o emprego se revelarem a sua infeção.
“Há pais que estão em casa infetados e levam os filhos à escola e não dizem nada a ninguém” e “pessoas que continuam a ir para o seu trabalho com alguém em casa doente e não dizem, porque têm receio de ficar com menos salário ou menos capacidade de levar pão para casa”, o que acaba por ser “uma situação social gravíssima”, relata o diretor do serviço onde estão internados em enfermaria os doentes com covid-19 e os suspeitos de terem contraído a infeção.
António Pais Lacerda avisa que as pessoas têm de “tomar as devidas precauções” e se tiverem conhecimento que estiveram ao pé de alguém infetado devem ter o cuidado de dizer que vão ficar em quarentena em casa.
“Não é dizer, eu estive com aquela pessoa que estava infetada, mas não vou fazer nada porque me sinto bem. Isso é um disparate, porque é o que mantém a contaminação dos outros”, realça António Pais Lacerda à agência Lusa.
Como ainda não se sabe quando vai haver vacina, “a responsabilidade é de todos, mas é de todos no sentido em que ninguém tem culpa, mas toda a gente tem de fazer parar isto, porque se não, dentro de pouco tempo, entram demasiados doentes nos hospitais”.
“Se tivermos 200 ou 300 casos num dia, um ou dois se calhar vão entrar no hospital. Se tivermos 2.000 se calhar há mais que entram nos hospitais e se tivermos 5.000 há muito mais e de repente não há número de camas” para os doentes covid-19, nem para os outros doentes.
“As pessoas estão cansadas de ver números: é mais 200, mais 2.500 e mais 3.000, já passou a barreira. A certa altura as pessoas já não sabem o que isso quer dizer e desligam o seu pensamento em relação a isso”, observa.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos e mais de 44,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 2 694 pessoas dos 156 940 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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