Diário de Santo Tirso

Entrevista a Carla Mota, proprietária do salão Carla Mota Cabeleireiro

Carla Mota, 40 anos, natural e residente em Santo Tirso proprietária do salão Carla Mota Cabeleireiro em funcionamento há dez anos, foi obrigada a ficar em casa proibida de trabalhar durante vários meses em 2020 e 2021 devido à pandemia da COVID-19.

Diário de Santo Tirso: O que a levou em 2011 a abrir este negócio?

Carla Mota: O que me levou a abrir o negócio foi ir em busca de novos desafios e também a realização de um sonho, desde pequenina que gostava de ser cabeleireira e então na altura também a falta de trabalho, a oferta não era muita, e decidi arrancar por conta própria.

Diário de Santo Tirso: Quais são as vantagens e as desvantagens de trabalhar por conta própria?

Carla Mota: As vantagens é o facto de criarmos um projeto nosso, basicamente gerir o nosso tempo e podermos ter mais tempo livre para a família e para o lazer e realizar os nossos sonhos e avançarmos com um projeto nosso. As desvantagens, com esta situação pandémica, com a oscilação de salário corremos esse risco de ganharmos ou não ganharmos e temos também uma situação que é, como o nosso projeto é o nosso trabalho, temos de estar constantemente otimistas para ultrapassarmos esses obstáculos. Quando não é um mês bom, é sempre mau porque temos as contas para pagar e o rendimento às vezes é curto.

Diário de Santo Tirso: Como está a ser este regresso ao trabalho depois de dois meses e meio em que não lhe foi permitido trabalhar?

Carla Mota: Neste momento penso que está positivo. As clientes sentiram essa falta da beleza, de se arranjarem e estou a sentir que a volta está a ser muito positiva. Foi muito bom mesmo e o facto de termos estado dois meses parados sentimos falta de conversar, de estar com as clientes e vice-versa. Está a ser muito positivo.

Diário de Santo Tirso: Que adaptações que teve de fazer ao salão para cumprir as normas impostas pelas autoridades de saúde?

Carla Mota: Em 2020 quando fechamos o regresso foi bastante mau porque tivemos de nos adaptar e tive que eliminar uma bancada para ter distanciamento entre clientes. Adaptarmo-nos ao uso da máscara constante foi mau porque não estávamos habituados a usar máscara num espaço fechado. Dentro de um espaço fechado, máscara, a cliente e nós tornou-se um bocadinho difícil. Mas quanto ao resto, o facto da limpeza e desinfeção até nos adaptamos bem porque era um local que já o fazíamos, já tínhamos esse hábito de desinfeção. Tivemos foi que o praticar mais vezes, limpar a cada entrada e saída de cliente. As clientes também se adaptaram muito bem ao uso da máscara, desinfeção das mãos à entrada e à saída do salão. Acho que está a correr muito bem porque toda a gente cumpre as regras que são impostas aqui no espaço.

Diário de Santo Tirso: Tendo em conta que todas as suas clientes vêm ao salão por marcação, na sua opinião o risco de contágio por COVID-19 no seu local de trabalho é elevado?

Carla Mota: Eu penso que não, penso que no setor de cabeleireiro e barbeiro não haja o risco de contágio porque como acabei de dizer usamos máscara, a cliente desinfeta as mãos à entrada e saída. Nós os profissionais passamos o dia com as mãos na água e também acabamos por ter esse cuidado e trabalhamos por marcação por isso mesmo, para não haver ajuntamentos de clientes dentro do espaço, não haver cruzamento e penso que não seja um setor de risco.

Diário de Santo Tirso: Indignou-a que ao mesmo tempo que foi proibida de trabalhar, muitas pessoas apareciam na televisão com o cabelo arranjado? Nas redes sociais foram centenas as publicações de pessoas indignadas ao constatarem isso.

Carla Mota: Sim, não vou dizer que não me indignou. Indignou um pouco. Mas compreendo o facto das colegas que trabalham na comunicação social terem que o fazer porque haviam essa necessidade. As pessoas que lá trabalham terem que arranjar os cabelos, os apresentadores, isso indignou-me um bocadinho, não vou dizer que não mas compreendo a situação.

Diário de Santo Tirso: Em 2020 foi proibida de trabalhar um mês e meio, em 2021 dois meses e meio. Como conseguiu aguentar financeiramente para voltar a reabrir o negócio?

Carla Mota: Aguentar indo às poupanças, foi basicamente isso, ir buscar às poupanças e com a pequena ajuda que o estado nos deu. Também consegui superar mas não foi fácil.

Diário de Santo Tirso: Tem ideia do prejuízo que teve com os confinamentos de 2020 e 2021?

Carla Mota: À volta de 20% faturação anual.

Diário de Santo Tirso: Além do lay-off teve mais algum apoio por parte do governo?

Carla Mota: Como sou trabalhadora independente não tive direito ao lay-off, tive o apoio da segurança social ao trabalhador independente.

Diário de Santo Tirso: Julga que o governo deveria ter antecipado as dificuldades dos comerciantes, especialmente este ano, tendo já experiência do ano passado, ou na sua opinião o governo não pode fazer muito mais do que o que tem feito?

Carla Mota: O governo deveria sim, tendo em conta já termos estado numa situação idêntica podiam ter tomado medidas mais cedo. Desde que nos obrigaram, quando reabrimos em 2020, a termos tantos cuidados, acrílicos, desinfeção, materiais, uma vez que já tínhamos essa proteção toda penso que podiam ter ponderado se haviam setores que poderiam reabrir ou não. No nosso caso penso que o governo deveria ter tomado outra solução em relação aos cabeleireiros porque realmente vi que houve outros setores que estavam abertos e que não tinham essa necessidade de estarem abertos. Como é o caso das lojas de ferragens e similares, penso que nós poderíamos ter estado a trabalhar. Com segurança mas podíamos ter estado a trabalhar.

Diário de Santo Tirso: Relativamente à Câmara Municipal na sua opinião poderia ou deveria ter ajudado mais os comerciantes de Santo Tirso e não me refiro apenas a ajudar financeiramente? Ou a Câmara de Santo Tirso não tem os meios para o efeito e essa é uma tarefa que deveria ser exclusivamente do governo central?

Carla Mota: Eu sei que a câmara ajudou algum comércio em Santo Tirso. Quanto ao nosso setor, câmara e governo penso que nos poderiam ter ajudado mais na questão da proteção. Máscaras que na altura quando reabrimos em 2020 eram caríssimas, e para nós estarmos a trabalhar no setor, não digo só na parte de cabeleireiro mas em todos os setores tínhamos que usar a máscara e troca-la várias vezes ao dia. Penso que nesse aspeto poderíamos ter ajudado mais e não fomos ajudados.

Diário de Santo Tirso: Tem esperança num futuro melhor? Ou as perdas que teve e a crise que já começou vão fazer-se sentir durante muitos anos?

Carla Mota: Eu penso que vamos ultrapassar esta crise. Falando no meu setor de cabeleireiro, penso que conseguimos ultrapassar porque noto e sinto essa necessidade por parte dos clientes, gostam de andar bem e precisam. Precisam de se arranjar e de estarem bem com eles próprios para ultrapassar esta situação.

Diário de Santo Tirso: Que mensagem gostaria de deixar a todas as suas clientes?

Carla Mota: Em primeiro lugar agradecer a todas por terem compreendido porque nem sempre é fácil nós transmitirmos à cliente que vamos ter que encerrar. Agora depois de reabrirmos e explicar que ao sábado temos que encerrar à uma não é fácil. Agradeço a todas elas essa compreensão. O facto dos telefonemas durante a pandemia, terem ligado e mantido o contacto e espero que todas se protejam, desejo a todas muita saúde e um obrigada.

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