Diário de Santo Tirso

Entrevista a António Freitas, Presidente do Clube Desportivo das Aves

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António Freitas, 67 anos, presidente do Desportivo das Aves desde 2020 pela segunda vez, depois de ter sido presidente de 1997 a 2001. Foi reeleito presidente do clube provavelmente na altura mais difícil de sempre e não fosse o seu envolvimento o Aves teria faltado aos últimos jogos quando ainda estava na primeira divisão, na época 2019/2020.

Diário de Santo Tirso: Para relembrar todos os leitores do Diário de Santo Tirso, em que circunstâncias encontrou o clube em julho de 2020?

António Freitas: Eu fui a eleições do Clube Desportivo das Aves para a formação porque eu nessa altura ainda não tinha a certeza que a SAD ia desistir do clube, andavam-nos a enredar o que nos obrigou mesmo em cima da hora a constituir um clube novo para começarmos do zero. Isto trouxe-nos muitos problemas e eu aqui tenho que agradecer à minha direção que sem eles eu não tinha conseguido nada. Não sei se outra direção também iria acorrer a esta situação, calhou-me ao principio eu reagi muito mal quando me falaram num novo clube, uma reação espontânea mas no outro dia mais calmo e falando com os meus diretores avançamos a todo o gás para esta situação, começar do zero e fazer até um belíssimo campeonato que não perdemos nenhum jogo. Vamos agora para o segundo degrau e eu aspiro a poder continuar, eu, os jogadores e o treinador fazer novamente mais um campeonato meritório em todos os aspetos. Posso dizer que tirando dois ou três jogadores foram todos os jogadores a custo zero e que enveredaram a camisola na formação do Aves que em quinze dias se fez esta equipa, este trabalho não se deve a mim, deve-se ao mister e aos jogadores, eu não quero me sobrevalorizar sobre ninguém. Eu fiz o meu papel, todos os elementos da seleção fizeram o deles e os jogadores depois premiaram todos os avenses com esta subida de divisão.

Diário de Santo Tirso: Qual o balanço que faz deste ano de presidência, à parte do sucesso desportivo que o clube teve, ou seja, em termos estruturais, administrativos e financeiros?

António Freitas: Nós começamos com muitas dificuldades. Como podem ver o Aves não é só futebol mas tem o estádio, tem um pavilhão e tem um complexo desportivo. E isso para aguentar estas três infraestruturas que são pretensas neste momento totalmente do Aves como deve verificar isto torna-se bastante honoroso. Nós andamos a viver bastante tempo sem qualquer contributo da câmara porque estava a tratar do contrato de formação e o dinheiro foi aparecendo. Agora já temos uma verba que eu agradeço à Câmara Municipal, um protocolo, que nos desanuviou bastante e eu penso que neste momento o Aves está a entrar novamente no caminho certo. Começamos do zero mas eu agora estou com o mesmo entusiasmo como se estivesse na segunda na segunda ou na primeira liga. Estamos a limpar alguns débitos que o clube tinha, com a ajuda de todos e a organizar o clube melhor. E organizar não me refiro a novos elementos que vão entrar no Aves. Há aqui dois funcionários, há um que eu não quero dizer que vai ser o de diretor-geral mas eu vou-lhe chamar de diretor-geral porque vai estar a ajudar-nos a organizar melhor todas as áreas do clube, é uma pessoa que eu admiro e que merece que é o Dr. Pedro, que está agora mas quando vier vem com um espírito renovado para fazer aquilo que nós desejamos. Tenho certeza que esta próxima época no que me diz respeito vai ser bem menos cansativa porque o trabalho está muito bem delineado por todos aqueles que compõem a direção. E olhe que eu até me imagino uma figura decorativa e sei que não sou, sei que quem foi comigo tinha um projeto como todas as direções e eu acho que está agora a correr bastante melhor. A primeira época foi muito difícil.

Diário de Santo Tirso: Relativamente à época desportiva, tivemos a equipa de futebol sénior a fazer uma época quase perfeita, sendo campeão e subindo de divisão e a equipa de voleibol feminino que atingiu a melhor classificação de sempre de uma equipa do concelho de Santo Tirso. Qual o balanço que faz, era isto que pretendia para esta época, ou faltou algo mais?

António Freitas: Eu tenho que ressalvar, o campeonato feito pela equipa sénior, que ganhou o campeonato sem derrotas, o voleibol, que foi a melhor classificação dos últimos anos e uma palavra de apreço ao professor Manuel Barbosa e ao coordenador técnico José Luiz Nogueira e também já agora o vice-Presidente José Pedro de Freitas. Eu aproveito para chamar os avenses para fazer uma visita à nossa sede e para se fazerem sócios que nós precisamos muito deles. Eu para já não posso dizer que os sócios esqueceram o Aves, tenho dentro do que contava cumprido mas acho que o Aves neste momento precisava de mais sócios porque nos momentos mais difíceis aí é que se vê a ajuda à instituição Clube Desportivo das Aves. Espero que este meu apelo seja devidamente ouvido por todos os Avenses e desde já lhes agradeço.

Diário de Santo Tirso: Como é que construiu uma equipa de futebol sénior em tempo recorde? Dotou-se primeiro, de uma boa equipa diretiva para conseguir reunir um grupo que se veio a confirmar como sendo muito bom mas ainda assim, como é em poucas semanas arranjou treinador, jogadores com créditos firmados e condições para fazer a época que fez?

António Freitas: Começamos por escolher um treinador que efetivamente superou, não só porque ganhou, expectativas, as minhas. Felizmente que ele vai continuar. Eu posso-lhe dizer que eu não estava dentro dos jogadores para o distrital e eu reuni-me com ele, quinze dias, uma semana, depois outra semana, ele escolheu os jogadores porque já os conhecia. Este trabalho não foi feito por mim, não foi. Foi pelo mister, pelo Diogo Pereira que é mais novo do que eu, conhecia bem as camadas jovens e como vê eles conseguiram, eles conseguiram, não fui eu, eles conseguiram fazer um trabalho muitíssimo bom. Eu compartilhei com eles e com os jogadores, e ajudem no que eu podia e que era humanamente possível mas posso-lhe dizer que eles trabalharam o ano passado a custo zero, era o amor ao clube, a este emblema.

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Diário de Santo Tirso: Quais são as maiores dificuldades do Desportivo das Aves actualmente no dia a dia?

António Freitas: As dificuldades são aguentar estas infraestruturas que eu e todos os avenses se orgulham. São, como eu já tinha dito, é o estádio, é o complexo desportivo com relva sintética e o pavilhão. Isto engloba já um orçamento bastante alto. Posso dizer que só para luz são precisos três ou quatro mil por mês. Este ano achamos que devíamos brindar o plantel com uma verbazinha simbólica, um orçamento muito baixo. Mas a maior parte deles, tirando dois que tinham objetivos mais alargados como jogadores, são dois jovens, praticamente todos aceitaram continuar, e vão receber uma verbazinha que eu vou dizer que é muito pequena porque eu sei quais são que aqui à nossa volta que não pagam muito mas já pagam um vencimento que eu digo que são fora da realidade do Aves porque só assim é que conseguimos manter o Aves, dar um passo de cada vez e eu amanhã ainda vou ter uma reunião na associação para ver como se vão programar bem os campeonatos mas nós estamos preparados. Nós temos aqui, falando da pandemia, foi para além do que nos aconteceu, ainda tive e a direção, levar com a pandemia como todos os portugueses, sem público nos estádios, sem nada, sem receitas, eu só posso dizer que as contas ao dia de hoje, do meu exercício estão em dia e eu é uma parte que eu tenho muita responsabilidade, vou-lhes dizer que aquilo que prometemos aos jogadores é pouquinho mas os funcionários, toda a estrutura do Aves, vai receber pontualmente, não vai haver atrasos. Se houver atrasos eu tenho que ir busca-lo a algum lado. Se a pandemia nos deixar entrar público, os tais 33% já nos dá 500 ou 600 pessoas no nosso estádio, dá-nos uma verba que eu vou dizer engraçada porque futebol sem público custa-me ver. Mas graças a Deus nos jogos em casa tudo faremos para jogar no relvado e portanto por mais barato que seja o futebol vamos conseguir uma verba nada tivemos, o ano passado foi para esquecer, só as vitórias é que foram a alegria do Clube Desportivo das Aves.

Diário de Santo Tirso: Como é que está a situação da SAD do Aves? Sabemos que a SAD foi declarada insolvente por não ter “ponta por onde se pegasse” mas não sabemos nada mais.

António Freitas: Eu posso dizer que vocês sabem como eu porque a partir dos últimos dois jogos eles ainda vieram aqui duas ou três vezes ao estádio, eu contava ir para a formação porque eles diziam que estavam a fazer um plantel para continuar na Segunda Liga ou na Terceira Liga. Andaram-nos a iludir a quase até ao término de nós conseguirmos arranjar uma solução. Após após isso eu nunca mais vi. Sei o nome porque que a senhora tem, do senhor também ainda me lembro mas quero ver se me esqueço mesmo. Não posso estar a olhar para trás, é um caminho novo. Eu vou repetir uma frase que pegou não é porque eu quisesse, é o renascer das cinzas. Eu já vejo uma luz ao fundo do túnel, e é a minha missão enquanto tiver é fazer que essa luz cada vez vá aumentando um bocadinho, cada ano. Eu não posso prometer, são vários degraus mas conto que o Aves daqui a seis anos esteja no futebol profissional, era o meu gosto e eu pelo que vejo o Aves não é o clube desta divisão. O maior respeito a todos, nós temos uma força, uma mística muito grande e vou reforçar, a força avense que nos acompanhou para todo lado a ver os jogos fora dos muros dos estádios onde nós íamos jogador, 100 ,150, 180 pessoas com barulho do princípio ao fim, isto ajudou-nos a ter o sucesso da subida de divisão, sem eles as coisas eram mais complicadas.

Diário de Santo Tirso: Há quanto tempo é que não tem notícias de Wei Zhao e Estrela Costa?

António Freitas: Eu não sei não sei onde vivem. Disseram-me que a semana passada passou por aqui o senhor chinês mas eu não vi e se visse também não ia à procura de quem neste momento não me pode ajudar nada. Enterraram o clube, é uma mágoa minha, ainda há pouco tempo ver na Primeira Liga, na segunda, ganhamos a Taça de Portugal. Mas atenção, eu quando foi a Taça de Portugal fiquei muito contente, fui dos que fui ver, penso que foi toda as Aves, mas eu sabia, ou pressentia que não andava tudo bem, eu tive conhecimento pelo que me disseram e depois confirmei de orçamentos de jogadores que só os três grandes é que eram compatíveis para ter esse orçamento e portanto as coisas destruíram-se, foram destruídas e depois quando veio esta administração foi o que eu digo foi a punhalada final a todos os avenses porque a SAD, eu repare e já vi isso noutros clubes, os investidores vêm para ganhar dinheiro, não vêm pela paixão do clube, paixão desaparece e vão para outro lado e foi o que nos aconteceu e hoje estamos a pegar no clube novamente e assim será. Eu não gosto mais do Aves que ninguém porque um jovem de cinco ou seis ou sete anos anos gosta tanto do Aves como eu. A única diferença é que gosta há menos anos porque é mais novo do que eu, agora eu fui uma pessoa aqui da terra em que o Aves esteve sempre presente e que eu ajudei até à SAD. No primeiro e no segundo ano quando jogavam na Segunda Liga, eu dei-lhes o patrocínio nas camisolas atrás, porque eu gosto do Aves e foi assim que me ensinaram. Mas se me perguntasse eu gosto mais do Aves agora? Gosto mais do Aves agora. Agora o Aves é nosso e mais vale começar de novo, limpinho, limpinho e em frente. Eu quando o Aves agora joga quero-lhe dizer eu esqueço-me se estou na primeira, na segunda ou na terceira ou no distrital, o que quero é a bola a rolar e sinto-me orgulhoso.

Diário de Santo Tirso: O Desportivo das Aves tem estado a competir com o nome de Clube Desportivo das Aves 1930 devido à separação da SAD. Quando é que vai cair o 1930 e voltaremos a ter o nome tradicional?

António Freitas: Eu gostava que fosse amanhã, mas não é possível por causa das insolvências, o processo está em andamento, ainda agora foi mudado o administrador da insolvência. Mas eu não sei se essa fusão será comigo a presidente mas enquanto que eu estiver aqui estou muito atento para que se consiga fazer essa fusão o mais rápido possível. Esta foi uma saída obrigatória mas penso que mais lá para a frente, daqui a um ano ou dois, se possa assumir essa função.

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Diário de Santo Tirso: Quais são as perspetivas para o clube nos próximos tempos? Chegar à Primeira Liga o mais rapidamente possível? Ou no seu entender é melhor ter cautela e apostar num crescimento mais sustentável?

António Freitas: Para chegar à Primeira Liga eu não posso passar por cima dos regulamentos da Associação de Futebol do Porto, nós começamos na divisão mais baixa, subimos agora um degrau e temos que subir os outros degraus. Vai demorar algum tempo mas deixe que eu lhe diga aqui uma coisa, eu fiz os últimos dois jogos pressionados pelo Dr. Pedro Proença porque dizia, presidente tome conta do clube senão o clube acaba, no fundo o clube não acabou porque nós não deixamos. Eu não tenho nada contra o Dr. Pedro Proença mas como está no futebol profissional o Aves desapareceu para eles. Se fosse agora se eu tinha feito a mesma coisa? Eu era capaz de lhe dizer que não ou então punha uma condição, fazia os últimos dois jogos, não havia a pouca vergonha no futebol nacional e internacional mas era capaz de dizer que tinha que começar por uma divisão mais superior, na elite ou no Campeonato de Portugal, não aceitava ir para o regional. Eu não aceitava, não sei se ia conseguir mas ia lutar. Agora vou-me virar mais para a associação a que nós pertencemos, a Associação de Futebol do Porto, e vou lá lutar, com educação pelos valores que este clube merece continuar porque eu tenho que dizer que, e não me podem levar a mal, eu não gostei nada como se desenrolou o campeonato distrital o ano passado porque nós já andávamos na frente ninguém nos tirava de lá e depois fazem uma série com cinco ou seis clubes do mata mata, podia calhar um jogo menos bom e nós ficávamos na mesma divisão e era mudanças em cima da hora, assim como os campos, vamos jogar aqui e no dia antes ou dois dias, agora não vai ser aqui, vai ser ali, eu acho que nós temos e as associações vivem dos clubes, temos que nós expormos esses problemas e tentar que as coisas possam trabalhar da melhor forma, acho que é possível.

Diário de Santo Tirso: Relativamente à próxima época, podemos esperar que o Desportivo das Aves seja de novo campeão e suba novamente de divisão?

António Freitas: Eu tenho que dizer que esse é o objetivo dos avenses em primeiro lugar e depois do presidente e da sua direção. Vamos lutar agora se vamos conseguir, temos que fazer os jogos mas eu já tinha dito eu parto mais motivado para este segundo campeonato, eu quero esquecer a palavra distrital, só a vitória, poderá acontecer para o ano, vamos lutar.

Diário de Santo Tirso: Falando um bocadinho do futebol no concelho de Santo Tirso, no seu entender em que estado se encontra? Temos o Aves, vencedor da Taça de Portugal há apenas 3 anos, temos o Tirsense afastado dos grandes palcos desde 1996 temos o São Martinho no campeonato de Portugal e depois temos o Roriz, o Vilarinho e o Monte Córdova na distrital. Como é que conseguiríamos ter o concelho de Santo Tirso com equipas em divisões superiores?

António Freitas: O Aves podia estar e era a nossa divisão, a entrada aqui da SAD funcionou bem nos dois, três primeiros anos e nos últimos dois anos foi o que se viu. E o que aconteceu é que esses clubes que se referiu do concelho estão todos à nossa frente. Eu e os avenses todos vamos procurar fazer o nosso melhor e conto, eu não tenho nada contra esses clubes, eu ainda agora, o ano passado, vamos evitar de ir buscar jogadores a clubes, o que houve um clube que não nos respeitou. Mas eu não vou escrever cartas ou emails, deixem-nos ir, há-de-haver outros jogadores, mas fica cá gravado. Eu agora não tenho tempo para pensar nos outros clubes, tenho tempo para os respeitar. Agora para tomar conta deste barco, que isto é um barco já bem grande, já faço muito, dar a cara por este barco. Mas repito, eu tenho tenho uma equipa de diretores que me superou aquilo que eu esperava, eu tenho que repetir, todos, está aqui uma jovem, temos mais jovens, temos três ou quatro com 55 anos e depois jovens, um até joga futebol que é um engenheiro, também faz parte da equipa, só assim é que nós seguramos neste clube. É a massa associativa porque eu, o maior respeito que eu tenho pelos outros clubes, a mística deste clube, aí é dificilmente ou não é superada por nenhum. O Tirsense também, é um clube do concelho com a sua dimensão, é a sede do concelho mas a mística, saber o que é o Aves, é inigualável e isso dá-nos muita força.

Diário de Santo Tirso: Que mensagem gostaria de deixar a todos os adeptos avenses?

António Freitas: Num acto de vaidade eu sou conhecido, tenho 66 anos, como sabem que dou o que posso, podem contar com todo o meu esforço enquanto que eu estiver aqui, tenho mais um ano de mandato, é verdade que eu sinto-me um bocado cansado, até adoentado mas eu tenho elementos nesta direção mais jovens que queiram abraçar a presidência, não é um, são vários, o meu trabalho é convencê-los a aceitarem porque o desporto não é só para quem tem 50 ou 60 anos é para os jovens. Eu o ano passado candidatei-me para fazer uma equipa mais jovem, para renovar, para arejar e para já penso que consegui, sem dizer mal da outra lista, que fez o seu trabalho, absolutamente nada, não se vê nem eu a mandar comunicados e afrontas, não, eu vivo neste momento um clima calmo e só assim é que nós vamos conseguir os nossos objetivos, é vencer e eu não tenho mais nada para vos dizer. A minha vida foi sempre de trabalho, eu fugia sempre às entrevistas, nunca gostei de andar na comunicação social mas pelo que aconteceu o ano passado, outros órgãos de comunicação social como vocês me chamarem para dizer meia dúzia de palavras eu acho que devo aparecer neste momento que o Aves mais precisa, só por isso e por isso é que vos agradeço mais uma vez por terem vindo ao nosso relvado fazer esta entrevista e que tudo vos corra pelo melhor, é o desejo que vos deixo.

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