De Kant aprendemos: “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”; “Age como se a máxima da tua acção se devesse tornar pela tua vontade, em lei universal da natureza”; “Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio”. São estas as três modalidades do imperativo categórico que, em função das específicas circunstâncias de uma dada situação, devem orientar politicamente aqueles que se propõem exercer ou que exercem funções públicas. Este imperativo, importa proclamá-lo frontalmente, nunca animou os epígonos das filosofias políticas do “rebanho” ou da “manada”. (No seio das quais sempre emergem e medram “matilhas” e “alcateias”.)
Com Kant começa assim a desenhar-se, a tomar corpo, a filosofia política, já prenunciada no Renascimento, designada por Humanismo Personalista, necessariamente Reformadora, claramente avessa às políticas de “rebanho” ou de “manada”. No Humanismo Personalista temos mais que “o Homem medida de todas as coisas” (no relativismo do sofista Protágoras); temos o Ser-Humano, agora Pessoa, na sua Eminente Dignidade (Mounier), porque “raiz de pensamento” e “raiz de liberdade” (Maritain); porque não é soma, é o “não-inventariável”, que deve dizer “sou mais que a minha vida” (Marcel). Mas a pessoa só concretiza a sua autenticidade, a sua ipseidade (o singular que define o carácter individual), em comunidade. Comunidade que será tanto mais expressão de Humanismo, que cosmicamente nos individualiza na Criação, quão mais forte for a comunhão com a Natureza e o Amor entre os Homens, palco necessário e propício à imaginação criadora e dialógica, onde o espírito de fraternidade supera a tendência egológica.
Nestas perspectivas políticas continuam os grandes confrontos e desafios políticos da nossa contemporaneidade. A concepção do Humanismo Personalista, que pressupõe a Pessoa como o princípio (o alfa) e o fim (o ómega) de todas as coisas e actos ou a concepção coletivista (de “rebanho” ou “manada”), na qual o homem é objecto ou acidente, pois, aí, o “colectivo” é o sujeito da história.
Nas filosofias de “rebanho” ou “manada” o imperativo categórico não é reconhecido, até pela natureza historicista destas concepções políticas. Por isso, nelas a vergonha cede à conveniência e à oportunidade. Em forma popular assumem o “vale-tudo” como axioma.
Desde a sua fundação o PS tem oscilado entre a perspectiva colectivista-marxista e o humanismo personalista. Colectivista marxista quando se proclamava “partido socialista / partido marxista”; partido humanista quando afirma o “socialismo em liberdade” (que é uma contradição nos seus termos). Mas, agora, em Santo Tirso, o PS deu um novo salto ideológico. Pela mão do seu presidente, que é presidente substituto e candidato a presidente de Câmara. Através dele o PS assume a filosofia política do “rebanho” ou “manada” na qual “vale tudo”, para que não haja “animais” tresmalhados, no ataque subreptício que pré-ordenou para conquistar as juntas de Monte Córdova e Agrela. (lá no fundo da sua alma Alberto sonha com ter 9 vereadores na Câmara, 27 membros na Assembleia Municipal e as 14 juntas de freguesia do concelho. Há moda da Coreia do Norte, da China, da Venezuela e Cuba. E, depois, o Alberto escolherá o modelo: Alberto Kim Jong-un; Alberto Xi Jinping; Alberto Maduro; Alberto Dias-Canel!).
Para concretizar a sua saga, Alberto vinha contando com os préstimos dos transfugidos do PSD, Alírio Canceles e Manuel Leal (que ironia!). Com eles passou ao ataque trazendo para o “rebanho” ou “manada” os candidatos do PSD à junta de Monte Córdova – encabeçados pela ainda presidente Andreia Correia – e à junta de Agrela – encabeçados por Patrícia Pereira, actual tesoureira desta junta. Na “conversão” destas pessoas à política do “vale-tudo”, novos trânsfugas do PSD se juntaram aos antes transfugidos. São eles o ainda presidente da Junta de Agrela, Paulo Bento, que tem sido “ponta de lança”, e ainda os antigos presidentes, Vicente Pereira (pai da Patrícia) e Augusto Souto. Todos os candidatos transfugidos, a par destes novos intermediários, cospem no prato que comeram, ou, em versão canina, mordem a mão do dono que lhes deu de comer. E as coisas tornam-se grosseiramente imorais quando, para enganarem os eleitores que assim deles fazem objecto das suas ambições, simulam movimentos independentes, que nunca existiram, pois para outra coisa não servem que não seja o candidato Alberto.
Assim, aquilo que há semanas não era certo, está confirmado. Há negócio entre o Alberto e as candidaturas que mudaram, em Agrela e Monte Córdova, do PSD para o PS, com o nome do PS escondido. Todavia, como não são coisas privadas, as cabeças de lista – Patrícia e Andreia –, bem como o candidato Alberto, devem mostrar ao concelho o conteúdo desses negócios. E devem mostrar ainda os contornos da intermediação feita pelos transfugidos Alírio, Leal, Bento, Vicente e Souto. Como Friedman evidenciou “não há almoços grátis” (mesmo que em forma de vingança). Por isso os eleitores devem saber o que as partes envolvidas ganham com estes contratos. Todavia, independentemente dos ganhos tidos ou… prometidos, alguma coisa perderam todos: são as consequências morais negativas das farsas que montaram. E por isso, todos os intervenientes aqui considerados assumiram o papel de “dissimulados”. E os transfugidos do PSD, “conversos” ou não ao PS, não escapam ao juízo que os embustes que montaram legitima. Mas como dizia Sartre, “Nós somos as nossas escolhas”. É por isso que há quem pratique o embuste, como há quem seja leal e não cuspa no prato em que comeu!
Alcindo Ferreira dos Reis