Dia 3 de julho de 2018 será um dia que ficará para sempre na memória de Sílvia Teixeira, foi brutalmente espancada e roubada no seu café em Pedome. O agressor só parou quando Sílvia fingiu estar morta.
Passados dois anos e meio o Diário de Santo Tirso quis saber como está a vida desta mulher que sobreviveu quase por milagre. Sílvia Teixeira diz que o seu único pensamento naquele dia foi o seu filho menor de idade, e seu menino continua a ser a sua razão de viver.
No dia 3 de Julho de 2018, Sílvia estava sozinha no seu bar por volta das 17h15, o agressor apareceu, stressado, querendo uma relação amorosa: “Quanto mais me pressionas pior, daqui a nada nem amigos somos. Não estou interessada em ti”, disse Sílvia. E foi para o balcão fumar um cigarro e com o telemóvel no facebook a ver se ele se ia embora. Não foi. “Entrou pelo balcão pelo meu lado direito e eu não me apercebi. Primeiro deu-me uma pancada com uma garrafa de cerveja no ouvido direito – eu já ouvia mal do esquerdo e ele sabia. Os óculos saltaram, ouvi-os a deslizar pelo chão. Tento perceber o que aconteceu e vejo-o mesmo à minha frente. Foi então que me deu um soco na vista esquerda, a única de onde via. Senti-a rebentar. Senti-a a inchar, inchar, e ficou tudo preto até hoje. Fiquei cega.”
Deixou o pescoço cair para o lado e ao mesmo tempo que parou de fazer força desmaiou involuntariamente “mas com ar nos pulmões”. Depois da agressão, Horácio fechou o bar à chave, fechou as janelas e partiu. Ficou hora e meia ali caída. Quando acordou, sem ver, não sabia se ele estava ali a olhar para ela ou se tinha saído. E quase não ouvia também. Ganhou coragem e pôs-se de pé e foi apalpando tudo. O telefone fixo desligado, o telemóvel não o encontrou. Foi até às janelas, mas eram gradeadas, a porta também. “Comecei a gritar e a voz saía tão baixinha. Mas o vizinho da casa ao lado ouviu-me e chamou o 112. Disseram-lhe que já ia a caminho. O Horácio tinha contado ao patrão o que fez, disse-lhe que matara a namorada e precisava de dinheiro para fugir, e ele tinha chamado a polícia.”
O caso foi de imediato entregue à Polícia Judiciária.
O Diário de Santo Tirso encontrou uma mulher injustiçada, com medo do futuro, sem visão, com pouca audição, como a própria diz com vontade de viver mas fechada dentro de um corpo escuro.
A vida de Sílvia Teixeira de 40 anos nunca mais voltará a ser o que era, com as agressões perdeu totalmente a visão, apenas via 30% de um dos olhos mas após o primeiro soco que o agressor lhe desferiu no olho ficou totalmente cega. Com as agressões também perdeu a audição, neste momento o pouco que ouve é graças a um aparelho auditivo e continua a fazer cirurgias para tentar recuperar mais alguma audição.
Sílvia Teixeira é licenciada em deporto e ensino básico, mas a música é a sua grande paixão. Desde 2009 que abriu o seu bar de Karaoke em conjunto com o seu falecido marido, muito conhecido em Santo Tirso, “Sergio’s Karaoke”. Uma casa cheia de muita alegria e música era a sua paixão, assim o foi até 2018 quando tudo aconteceu. Sobreviveu, passou 3 semanas no hospital, ficou com 97% de incapacidade e dependente de outros para viver, já não tem forças nem capacidade para gerir um bar sozinha e continuar a fazer aquilo que realmente gosta.
Em relação a ajudas Sílvia Teixeira diz que pouco tem recebido, agradece à APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) que a tem ajudado e guiado na tentativa de conseguir apoios e soluções para as suas limitações físicas. Em relação à Segurança Social Sílvia diz que todos os processos de apoio são morosos, estando já há ano e meio à espera que lhe forneçam equipamentos que tem direito como invisual e não obtém resposta.
Vive com pouco mais de 400€ por mês que recebe do valor da baixa, que usufrui desde o dia das agressões, deste dinheiro ainda tem que dispor para deslocações a consultas, pagamento de formações essenciais para se adaptar a vida de invisual e para cobrir todas as despesas com o seu filho menor e órfão de pai. Quando terminar a baixa se ficar reformada, tendo em conta a sua idade não receberá mais de 200€ por mês.
Ficou privada da sua vida, do seu futuro, o seu agressor apenas foi condenado a 6 anos e 5 meses de pena e a um pagamento de 50 mil euros, que devido a não ter meios financeiros não irá pagar. O agressor encontra-se a cumprir pena em casa com pulseira eletrónica.
Desta história podemos concluir que um dia temos tudo e no outro não temos nada, de admirar a coragem desta mulher que após tudo que enfrentou não esqueceu o que tem de mais importante na sua vida, o seu filho, por ele aguentou e aguenta tudo o que for preciso e ganha forças para seguir em frente mesmo quando a maré rema em sentido contrário.
O Diário de Santo Tirso agradece a disponibilidade e simpatia da Sílvia Teixeira e deseja que o futuro lhe sorria mais que o passado e que as ajudas que tanto precisa apareçam.