Diário de Santo Tirso

A Educação e a Pandemia

Imagem: Diário de Santo Tirso

Cerca de 300 mil alunos do ensino secundário regressaram esta segunda-feira ao ensino presencial em todo o país. Santo Tirso não foi exceção e foram muitos os alunos que voltaram nesta que foi a terceira fase de desconfinamento das escolas.

O Diário de Santo Tirso visitou a Escola Secundária Tomaz Pelayo e constatou que as medidas de segurança estão asseguradas, os cuidados são levados ao limite e o perigo de contágio para os alunos, professores e funcionários é muito diminuto

Fazem parte 21 escolas do Agrupamento de Escolas Tomaz Pelayo e frequentam estas escolas cerca de 2500 alunos. A sede deste agrupamento é na Escola Secundária Tomaz Pelayo que tem 1200 alunos sendo o ensino profissional uma vertente muito importante com 18 turmas.

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Conversamos com Fernando Almeida, Diretor do Agrupamento de Escolas Tomaz Pelayo questionando acerca de diversos assuntos relacionados com este regresso, com a atualidade e com o futuro.

Diário de Santo Tirso: Como está a ser o regresso do ensino secundário? Considera que estão reunidas as condições para ser um regresso seguro e de forma definitiva?

Fernando Almeida: O regresso está a ser absolutamente normal e para isso penso que concorrem vários fatores entre os quais, primeiro é a terceira fase de desconfinamento daquilo que às escolas diz respeito, a primeira fase com o regresso dos alunos da pré-escolar e do primeiro ciclo e que no nosso caso teve grande expressão, 19 dos 21 estabelecimentos abrangem essa faixa etária de crianças e alunos. Depois tivemos uma segunda etapa com o regresso dos alunos do 2º e 3º ciclos. E agora os alunos do ensino secundário, portanto é se quisermos absolutamente normal nesta continuidade, neste processo que foi gradual de desconfinamento. Já agora aproveito também para dizer que a par deste regresso nós já temos outra atividade formativa também com carácter presencial, refiro-me aos alunos do ensino presencial, os alunos dos terceiros anos que neste momento já estão nas empresas a fazer a formação em contextos de trabalho, em contexto real de trabalho, também essa atividade formativa desses alunos é em situação presencial.

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Diário de Santo Tirso: Tem sido fácil sensibilizar os alunos para que cumprir as regras, tais como o uso de máscara e algum distanciamento de forma e evitar a propagação da COVID-19?

Fernando Almeida: Sim, de uma maneira geral temos a vantagem de, sendo nós escola e cuja primeira missão é educativa, portanto tivemos aqui um papel privilegiado na prevenção e na divulgação dessas mensagens. Por outro lado também, esta bipolação e este processo educativo no sentido dos cuidados a ter no âmbito da prevenção da COVID-19 dado que o contexto de pandemia já se estende há sensivelmente um ano nós progressivamente tivemos de fazer várias ações e várias campanhas, tivemos uma primeira versão há um ano atrás do plano de contingência que tinha normas que procuravam ter em conta aquilo que é o estado da ciência e da posição do ministério e das autoridades de saúde nesse momento. E depois com a evolução do conhecimento relativamente à pandemia e com as sucessivas atualizações por parte das autoridades responsáveis sobre essa matéria, as escolas também foram alinhando os seus procedimento, as suas orientações nesse sentido.

De qualquer forma penso que há aqui um aspeto importantíssimo em que foi a pronta adesão de todos os intervenientes deste processo educativo nas escolas, refiro-me não só aos professores mas também aos assistentes educacionais, com o seu cuidado, aliás, penso que tiveram oportunidade de observar que permanentemente os corredores, os diferentes espaços das atividades letivas e não letivas estão a ser rigorosamente higienizados o que reforça de facto essa mensagem que queremos passar de extremo cuidado relativamente às condições de saúde e de higiene em geral.

Diário de Santo Tirso: Foi anunciado pelo governo que durante este fim de semana foi feita vacinação em massa. Os funcionários e professores da Escola Tomaz Pelayo já foram vacinados?

Fernando Almeida: Só teremos uma meia dúzia de situações muito residuais, por exemplo situações que estavam com impedimentos em isolamento profilático ou uma ou outra situação muito particular de determinado perfil de doenças cuja aplicação da vacina vai ser em contexto hospitalar. À parte destas situações muito particulares de uma maneira geral houve uma massiva vacinação por parte do pessoal docente e não docente afeto a todas as escolas incluindo também, penso que foi uma boa medida do governo, no sentido de abranger também a outros colaboradores diretos das escolas, refiro-me por exemplos aos técnicos das atividades de enriquecimento curricular, dos prolongamentos, só para termos uma ideia estamos a falar de um universo de 400 profissionais no que diz respeito ao Agrupamento de Escolas Tomaz Pelayo e por aí vêm a dimensão deste processo. Além disso pelo feedback que tenho tido dos docentes e não docentes acho que o processo correu extremamente bem, em termos logísticos também, deixo aqui uma palavra de apreço pelo trabalho da autarquia e das autoridades de saúde, porque de facto é unânime que o processo de vacinação está muito bem organizado e portanto correu pelo melhor.

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Diário de Santo Tirso: Já registaram muitos casos de infeção por COVID-19 no passado, seja nos alunos ou nos funcionários e professores? Já houve algum surto na escola?

Fernando Almeida: Não, aliás a prova disso é que por exemplo nós relativamente aqui à escola sede, que é a que tem maior expressão em termos de alunos, a Escola Secundária Tomaz Pelayo, o mesmo acontece em relação à Escola Básica de Santo Tirso, a São Rosendo, tiveram sempre em pleno de funcionamento, até à altura em que o ministério decidiu suspender as atividades letivas presenciais. De qualquer maneira, mesmo com uma ou outra ocorrência ao nível das escolas do 1º ciclo, o grosso eram situações que foram diagnosticadas no âmbito familiar, ou seja, fora do contexto escolar o que vem reforçar a ideia que todos os cuidados tidos em contexto escolar, desde a higienização, aos corredores de circulação, as lotações com os espaços, só para terem uma ideia, nós aqui ao nível do refeitório temos uma média de 300 refeições, mesmo com o facto deste contexto de pandemia e com os horários desencontrados, mas para que tudo corra com a total segurança abrimos quatro turnos para a hora de almoço de modo a que cada turma vá fazer a refeição em grupo próprio, ou seja, os alunos vão integrados na respetiva turma e isso permite também obviamente dar um reforço das garantias de segurança para os alunos e para a comunidade educativa em geral.

Diário de Santo Tirso: Na sua opinião, tendo em conta as diferenças conhecidas do ensino presencial relativamente ao ensino à distância e tendo também em conta que esta situação já dura há mais de um ano, acha que estes alunos poderão sofrer algum défice de aprendizagem ou acha que isso pode ser colmatado com maior exigência dos professores?

Fernando Almeida: Deveremos de forma muito franca e direta assumir que a ausência dos alunos na escola provoca logo um défice insubstituível. Isto tem a ver não só pela componente de aprendizagem como também com todas as outras componentes que só podem ser desenvolvidas em contexto escolar. Penso também que esta pandemia serviu para a sociedade perceber que a ação da escola, o papel da escola vai muito além da simples transmissão de conhecimentos e portanto, muitas das competências que os alunos desenvolvem e vão ser fundamentais no futuro e na perspetiva da cidadania decorrem exatamente da interação que só é possível em contexto físico escolar. E portanto temos que assumir logo à partida que sempre que os alunos são privados de fruírem deste contexto escolar presencial há logo à partida um défice em termos do seu processo educativo mais amplo. De qualquer maneira feito este ponto de enquadramento eu diria que apesar destes constrangimentos as escolas e naquilo que diz respeito ao agrupamento de escolas Tomaz Pelayo demos a melhor conta relativamente às atividades de ensino à distância isto porque também tínhamos a experiência adquirida desde o primeiro confinamento onde tivemos que de emergência elaborar um plano de ensino à distância que depois reforçamos e consolidamos e a partir de julho do ano passado já tínhamos um plano de ensino à distância robusto e também não só pela componente da organização da comunidade educativa deste capítulo mas também até por aquisições que o próprio agrupamento fez, por exemplo nós temos aqui na Tomaz Pelayo e na São Rosendo, câmaras em número que permite que sempre que um aluno estava em isolamento profilático estivesse em situação de acompanhamento da atividade letiva que era ministrada na escola, e isso é um bocadinho fruto do investimento que a escola fez e de priorizar esta dimensão que era muito importante até porque sabíamos que íamos entrar num cenário de ensino à distância.

A experiência do ensino à distância não correu mal, penso que a comunidade educativa deu a resposta possível, de resto nós fizemos o tratamento de dois questionários de monotorização do ensino à distância a comunidade educativa reconhece que fomos eficazes nas medidas, agora obviamente que também é importante termos presente que há aqui determinadas competentes do processo educativo que não é possível desenvolver com a mesma eficácia e assertividade do que no ensino à distância mas para isso teremos que entrar agora numa nova etapa que é definir planos de recuperação e que já temos também em curso, medidas de recuperação, reforço das horas de apoio e de acompanhamento de alunos, entre outras medidas que já visam colmatar muito dos inconvenientes que possam resultar de facto deste confinamento prolongado.

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Diário de Santo Tirso: Que mensagem gostaria de deixar a todos os alunos e encarregados de educação que possam sentir algum receio que os seus filhos regressem à escola?

Fernando Almeida: Em primeiro lugar queria deixar uma mensagem de agradecimento a toda a comunidade educativa porque foram tempos e continua a ser tempos de extrema exigência e a normalidade possível que foi conseguida foi exatamente como se costuma dizer, com sangue, suor e lágrimas por parte de todos. Acho que é um momento para deixar uma palavra de apreço e de reconhecimento pelo trabalho dos professores, dos não docentes, da comunidade educativa em geral, os encarregados de educação também estiveram à altura no sentido de cooperarem neste processo e as entidades parceiras locais, a autarquia de uma forma muito particular, eu lembro que durante o período de confinamento nós continuamos a ter alunos na escola para quem foi preciso superintender a parte das refeições e outro tipo de apoios. Fomos eficientes porque houve também um trabalho muito próximo e muito estreito de articulação com a autarquia de Santo Tirso. Em primeiro lugar deixar aqui esta palavra de agradecimento.

Em segundo lugar deixar também uma mensagem  de responsabilização de todos porque queremos muito ter os alunos na escola e isso depende tanto mais da atitude cívica, responsável, dos cuidados que todos temos de ter enquanto cidadãos nos diferentes contexto, seja num centro comercial, seja num café ou restaurante, porque de facto esta é uma doença que atinge um grupo de pessoas indiferenciado e que depende muito desta conduta responsável individual de cada um de nós.

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